Mãe não é tudo igual, mas há algo em comum em todas elas

por Feito para Ela

Entrevistamos seis mulheres brasileiras que mostram formas diferentes de viver a maternidade e revelam como ser mãe mudou a vida delas.

Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde

Dizer que “toda mãe é igual, só muda o endereço” é tão clichê quanto ouvir que no coração de mãe sempre cabe mais um. Essa última frase é verdadeira, mas a primeira foi colocada em xeque nesta matéria. Cada mulher enfrenta seus próprios desafios para viver a maternidade. Alguns desafios já estão presentes no dia a dia, mas são potencializados quando o sonho de ser mãe se torna realidade. Há outros, no entanto, que só serão conhecidos quando os filhos chegam.

Nesta reportagem, você vai conhecer seis mulheres que vivenciam a maternidade de diferentes formas. Elas compartilham um pouco dos seus aprendizados, como enfrentam as dificuldades do dia a dia e o maior sonho que alimentam hoje. No final do texto, você vai descobrir que mãe não é tudo igual, mas há algo em comum em todas elas: o jeito de amar que é incondicional.

Mãe com diabetes tipo 1: o pâncreas não produz insulina, mas o coração produz muito amor.

A advogada Maria Eloísa Malieri mora na capital paulista, tem 48 anos e descobriu o diabetes tipo 1 em 1985. Chegou a pensar que não poderia ser mãe, principalmente depois de sofrer um aborto espontâneo. Mas ela não desistiu do sonho de construir uma família e, apoiada pelo marido, familiares e equipe médica, teve duas gestações saudáveis, das quais nasceram a Maria Eduarda (9 anos) e a Maria Luiza (7). “A maternidade trouxe um amor que eu nunca havia experimentado. Já me perguntei: como vivi até aquele momento sem esse amor?”, afirma Maria Eloísa.

O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, em que o pâncreas para de produzir insulina, hormônio que transporta o açúcar (glicose) do sangue para dentro das células. Sem insulina, a pessoa entra em um quadro de hiperglicemia e pode desenvolver sérias complicações de saúde e até morrer. Por isso, Maria Eloísa precisa aplicar insulina, medir a glicemia várias vezes ao dia, além de adotar outros cuidados para manter o controle do diabetes.

Ela não se reconhece como guerreira pelo fato de ter diabetes, mas acredita na força da maternidade. “Acho que todas as mães enfrentam vários desafios conforme sua realidade e superam. A partir do momento que a mulher recebe seu filho nos braços, as dificuldades se tornam menores e a vida começa a ter outra perspectiva”, declarou. Com Maria Eloísa foi assim. “Quando me tornei mãe, a gestão do tratamento continuou sendo muito importante, mas que adaptá-lo à agenda das minhas filhas, que aprenderam de forma tranquila que o diabetes faz parte da nossa vida. Então hoje as duas conseguem perceber quando eu tenho falta de açúcar no sangue, por exemplo, e preciso de ajuda. Também respeitam quando estou em um momento mais cansada e entendem as peculiaridades da condição”, conta Maria Eloísa, que compartilha sua rotina e dicas úteis sobre diabetes no perfil @eloebete no Instagram.

Mãe atípica e adotiva. Especial mesmo é o amor dela.

Leila Donária foi completamente transformada pelo amor de duas crianças. “Eu sempre quis ser mãe, só não imaginaria que a maternidade fosse me transformar tanto. Ao decidir ter filho, a gente nunca pensa na possibilidade de nascer uma criança com deficiência, ignorando a existência de um bilhão de pessoas no mundo. Assim, quando o Gabinho nasceu, foi realmente desesperador. Precisei passar por um processo de aceitação do filho que tinha nascido e que não era como eu havia idealizado. Aceitei o Gabinho depois de pensar que pudesse perdê-lo numa cirurgia”, relembra Leila, que abandonou a carreira de professora universitária para se tornar palestrante de inclusão e equidade, viajando pelo Brasil para falar sobre capacitismo, empatia e amor.

Leila é uma referência de mãe atípica, expressão usada para mães que têm filhos com desenvolvimento neuropsicomotor atípico ou sejam crianças ou pessoas neurodivergentes. “Já o termo mãe especial, apesar de ainda ser muito utilizado, é segregador. O que faz meu filho ser muito especial não é a deficiência dele, que é apenas uma de suas inúmeras características. O que o faz ser especial são outras questões. Assim como crianças sem deficiência também são especiais à sua maneira”, explica Leila, que mora em Londrina (PR).

Quando Gabinho estava com 4 anos, ela e o marido decidiram que era o momento de realizar um projeto de vida em comum e adotaram a Bia, que estava com 9 anos de idade. Hoje ela tem 13. “Eu também sou filha que chegou pela via da adoção. Então, isso sempre esteve no meu coração”, conta. “A Bia me ensina muito. Ela me ensinou o que é resiliência, me motivou a ir atrás da minha história de adoção e me ensinou que eu posso amar uma criança de qualquer idade. A minha vida não existe mais sem a vida dela.”

Leila, que tem mais de 140 mil seguidores no perfil @leiladonaria no Instagram, ensina que especial mesmo é o amor de mãe.

Mãe que nasceu cega. Mas o amor dela enxerga o essencial.

Feche os olhos e imagine uma voz linda falando com você. Esta voz pode ser de Lee Cardoso, servidora pública e artista com múltiplos talentos: canta, compõe e toca vários instrumentos. É mãe da Nicole, de 17 anos, e tem três filhos pets: a shih-tzu Nana, o poodle Mymmo, o spitz alemão Noah e o cão-guia Hug. Lee nasceu com uma retinose pigmentar que limitou sua visão. “Eu tinha uma percepção de luz e vulto, que fui perdendo ao longo do tempo. Nasci cega, mas só me reconheci assim aos 12 anos. Antes disso eu não entendia o que significava a expressão “você não enxerga” e achava que todo mundo era igual. Descobri que era diferente na adolescência e não foi nada bom. Cresci revoltada. Não aceitava a minha deficiência visual até pouco tempo atrás”, conta a artista. O processo de aceitação foi facilitado pela música e a maternidade.

Lee sempre quis ser mãe e não imaginou as dificuldades que enfrentaria quando engravidou aos 17 anos. “Ser mãe com deficiência visual foi difícil porque as pessoas queriam fazer tudo por mim. Eu não era tão empoderada como sou hoje, então abaixava a cabeça e deixava. Isso me privou de muitos momentos que eu não posso ter mais pois minha filha já está praticamente adulta. Por outro lado, somos muito amigas. Minha filha e eu nos tornamos parceiras e fazemos muitas coisas juntas”, conta a artista, que já compôs músicas em inglês para a Nicole.

Infelizmente, o preconceito ainda existe. Segundo Lee, ainda hoje muitas pessoas olham com piedade para a filha por ela ter uma mãe com deficiência visual. “Além disso, já fui impedida de entrar em carro de com o meu cão-guia”, relata. Mas nada disso desanima a artista, que publica conteúdos nas redes sociais inspirando outras pessoas e encantando com sua voz. Ela revela: “Meu maior sonho é poder ver fotos da minha filha. Se eu enxergasse, iria registrar todos os momentos possíveis com ela em fotos e vídeos e ficaria revendo.”

Conheça o trabalho da Lee Cardoso no Instagram: @leecardosoficial

Mãe que está solteira, mas nunca sozinha. O amor e a fé preenchem sua vida.

Mãe do Arthur e da Teodora, de 8 e 4 anos respectivamente, a pedagoga Daniella Coelho, 38, está numa dupla missão corajosa: criar duas crianças e morar mais de mil quilômetros distante dos familiares. Há pouco mais de um ano, ela se mudou com os filhos de Taubaté, no interior de São Paulo, para Gama (DF), onde trabalha como voluntária em uma aldeia indígena.

Dedicar tempo para um projeto social foi uma escolha feita com muito cuidado e planejamento. Já criar os filhos sem a companhia diária do pai deles não estava nos planos iniciais. Mas o divórcio ocorreu e ela se viu diante de um enorme desafio: “Ser mãe solteira é não ter aquela pessoa no dia a dia para dividir a responsabilidade das escolhas. Mas para quem tem fé ser mãe solteira não significa estar sozinha”, afirma Daniella. Ela continua: “Ser mãe é um presente muito valioso e desafiador, requer coragem e disposição para se conhecer. É entender seus limites e superá-los. É reconhecer que nas fraquezas do dia a dia você é suprida por Deus.”

Enquanto os filhos crescem em contato com a natureza, aprendendo a respeitar pessoas de culturas diferentes e vivenciando no cotidiano o que é ser família, Daniella segue buscando o equilíbrio e a maturidade para lidar com os questionamentos dos filhos sobre o que aconteceu. “É preciso ter maturidade para esses diálogos em meio às demandas do cotidiano sem sobrecarregá-los ou ignorá-los. Tento não me esquecer também que crianças são fontes de sonhos e esperança. Elas têm um jeitinho só delas de simplificar e resolver os problemas da vida de adultos.” Jeitinho esse regado com amor.

Duas mães que juntas são família. O amor delas é sem igual.

Ser mãe sempre esteve nos planos da ginecologista obstetra Luciana Patrício Marques, de 39 anos, e da arquiteta e artista visual Joana Cardoso, de 42 anos, que moram em Fortaleza (CE) e estão juntas há uma década. O planejamento da gravidez começou com várias pesquisas a fim de entender quais eram os caminhos possíveis para que duas mulheres pudessem engravidar. Depois do casamento, Luciana começou a residência médica na Universidade de São Paulo (SP) de Ribeirão Preto, onde foi possível fazer o tratamento de fertilização pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foram dois anos de tratamento. Os medicamentos e os espermas selecionados foram custeados pelas pacientes. “Depois de três tentativas nasceu Maria Flor, a nossa primeira filha, trazendo muita alegria, desafios e quebrando algumas barreiras que ainda existiam. Há 9 meses, chegou Serena, completando a família”, disse Luciana.

A médica explica que ainda lida com situações preconceituosas e constrangedoras na sociedade. Por falta de conhecimento ou por não estarem acostumadas a ver um casal de mulheres com filhos, algumas pessoas perguntam “onde está o pai” ou “quem é a mãe mesmo”. Luciana explica: “Nesta situação não existe pai e sim um doador de sêmen, que não faz parte da família. Todo o processo é anônimo”.

Segundo ela, tudo faz parte de um processo de educação, com muita paciência e amor. “Ensinamos Maria Flor que ela tem duas mães e buscamos fortalecê-la para que possa lidar com as diversas situações de forma leve” afirma Luciana, que completa: “Meu sonho já foi realizado, que é ser mãe de Maria Flor e Serena. Agora desejo que elas cresçam pessoas decentes.”

Acompanhe a história de Luciana no Instagram: @lu.patricio.marques

E mãe que se desdobra em muitas para conciliar profissão e maternidade. O amor dela nutre a família.

Para a nutricionista Eneida Ramos, 48 anos, ser mãe é sinônimo de amor sublime e grande realização. “A maternidade é sentir o coração pulsando fora do seu corpo. É algo que eu gostaria que todas as mulheres pudessem sentir. É um investimento na próxima geração. É sobre ter a oportunidade de deixar um legado ao mundo e possibilitar que minhas ideias, valores e crenças se perpetuem”, reflete a mãe da Letícia, 18 anos, e do Daniel, 7 anos.

Mas Eneida também pondera que a maternidade traz várias responsabilidades. “A maior delas é preparar os filhos para serem independentes. É um desafio enorme educá-los na contramão do que a sociedade estabelece como certo. Com a tecnologia conectada à internet, principalmente às redes sociais, nós pais precisamos observar para que os nossos filhos tenham as mentes protegidas e alinhadas com os valores de família. É como a minha mãe sempre diz: o filho sai da barriga, mas nunca sai da cabeça”, declara a nutricionista.

A chegada do segundo filho mudou muita coisa na vida profissional de Eneida, que desejou mais do que nunca trabalhar próximo de casa. “Não demorou muito e eu estava atendendo perto de casa no meu próprio consultório”, conta, revelando uma das lições que ensina para as suas alunas do método de emagrecimento. “Mães precisam adquirir o hábito do equilíbrio para dar atenção a todas as áreas da vida e fazer boa gestão principalmente do tempo”. Em seu perfil no Instagram, Eneida compartilha dicas sobre equilíbrio e vida saudável: @draeneidaramos.

Ela finaliza revelando o sonho que tem para seus filhos: “O meu sonho é que eles amem tudo aquilo que Deus ama e que fiquem longe do que desagrada a Deus. Que eles cresçam em graça e em sabedoria, nutridos pelo amor. 

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