Saiba como detectar o tumor, quais os sintomas mais comuns e como prevenir este tipo de câncer ginecológico.
Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde
O câncer de ovário é um tumor maligno que pode aparecer em qualquer idade, sendo mais comum após os 60 anos. Entre as brasileiras, ele é o terceiro tipo de câncer mais frequente, depois do câncer de mama e do câncer de colo de útero, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca)1.
É muito difícil diagnosticar o câncer de ovário no estágio inicial, pois trata-se de uma doença silenciosa, ou seja, não apresenta sintomas no começo e, quando eles surgem, podem ser confundidos com outros problemas de saúde menos graves. Além disso, quando os sintomas começam a incomodar e a mulher finalmente procura atendimento, o tumor já está avançado.
Maio é o mês de combate ao câncer de ovário. Embora ainda não exista uma forma de evitar totalmente a doença (algumas medidas ajudam a prevenir, vamos falar sobre elas adiante), é fundamental disseminar informações sobre ela para que a mulher esteja atenta aos sinais e sintomas e procure o médico o mais breve possível. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado aumentam o tempo de vida da paciente.
A ginecologista Walquíria Quida Salles Pereira Primo, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Ginecologia Oncológica da FEBRASGO, explica que “a causa do câncer de ovário está relacionada a um conjunto de fatores genéticos, endócrinos, alimentares, ambientais, reprodutivos, infecciosos e até exposição a agentes oncogênicos”.
Em relação aos fatores genéticos, a mulher tem risco estimado de 40% a 50% de desenvolver câncer de ovário até os 70 anos de idade quando há mutações no gene BRCA1 e de 10% a 20% se a mutação ocorrer no gene BRCA2.
Segundo a médica, os fatores de risco abaixo são os mais importantes no desenvolvimento do câncer de ovário:
- Idade avançada;
- histórico familiar de câncer de ovário em parentes de primeiro grau;
- histórico pessoal de câncer de mama, do endométrio ou de cólon;
- primeira menstruação (menarca) precoce, isto é, antes dos 11 anos de idade;
- menopausa tardia, ou seja, após os 52 anos.
Sinais e sintomas do câncer de ovário
Na fase inicial, o câncer de ovário geralmente não causa sintomas específicos. Mas à medida que o tumor cresce, pode provocar:
- aumento do abdômen (ascite);
- dor abdominal ou pélvica;
- sensação de plenitude abdominal, isto é, a mulher sente que o estômago está cheio logo depois de iniciar a refeição e, por isso, para de comer;
- problemas relacionados à má digestão (dispepsia);
- fraqueza;
- vontade de urinar com muita frequência, mas em pequenas quantidades (polaciúria).
Dra. Walquíria aponta ainda que os sintomas mais encontrados nas mulheres adultas com câncer de ovário são o aumento do abdômen e a presença do tumor pélvico ou pélvico/abdominal. Ela acrescenta que há outros sintomas que já foram relatados por pacientes antes do diagnóstico, porém eles são inespecíficos e apresentam baixa capacidade diagnóstica. São eles: náusea, diarreia, constipação, perda de apetite, alteração urinária e sangramento genital.
Se a mulher sentir com frequência alguns dos sintomas acima é importante se consultar com um ginecologista o mais breve possível e fazer os exames necessários. Se o câncer for confirmado, o ginecologista oncológico é o médico especializado para acompanhar a paciente durante o tratamento.
Como é feito o diagnóstico do câncer de ovário?
Muitas mulheres acreditam que o exame Papanicolau detecta o câncer de ovário, mas não é assim. Ele revela alterações pré-cancerosas nas células do colo do útero, mas não do ovário. O exame mais indicado para o diagnóstico de câncer de ovário é a ultrassonografia. “A ultrassonografia tem cerca de 96% de acurácia em predizer se um tumor ovariano é maligno ou benigno baseado nas características morfológicas dele”, afirma Dra. Walquíria.
De acordo com a ginecologista, o manuseio dos tumores ovarianos depende da combinação de vários fatores, entre eles a idade, se a mulher está na menopausa e há quanto tempo entrou, tamanho e características ultrassonográficas do tumor, presença ou ausência de sintomas e valor do marcador tumoral CA-125.
“De todos esses fatores, a idade é o mais importante para determinar o potencial maligno de um tumor ovariano”, avisa a ginecologista, que também é professora adjunta do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina na Universidade de Brasília, onde concluiu o doutorado e o mestrado. Em mulheres jovens, se o médico suspeitar de tumores de células germinativas, aquelas que formam os óvulos, pode solicitar exames para avaliar outros dois marcadores tumorais: alfafetoproteína e gonadotrofina coriônica humana.
Como é feito o tratamento do câncer de ovário?
A presidente da CNE de Ginecologia Oncológica da FEBRASGO explica que o tratamento é essencialmente cirúrgico e, quando necessário, a paciente também pode fazer quimioterapia. “O tratamento do câncer de ovário depende da idade da paciente, da história reprodutiva, do tipo de tumor e do seu estadiamento (estágio da doença). A análise pré-operatória acurada é fundamental para definir qual cirurgia será realizada”, esclarece a Dra. Walquíria.
Se a doença for detectada no início, especialmente nas mulheres mais jovens, é possível remover somente o ovário afetado, sendo mais provável o sucesso do tratamento. “Mas infelizmente a maioria dos casos de câncer de ovário é diagnosticada na fase avançada da doença, logo a taxa de recidiva é alta”.
É possível prevenir o câncer de ovário?
Não existe ainda uma forma específica de evitar totalmente este tipo de câncer, mas alguns fatores ajudam a reduzir o risco, como manter um estilo de vida adequado, com prática de atividade física e alimentação saudável, já que há estudos que sugerem a relação do câncer de ovário com o aumento de peso.
De acordo com a Dra. Walquíria, usar anticoncepcionais hormonais combinados, ter filhos antes dos 25 anos e amamentar podem reduzir de 30% a 60% o risco de câncer de ovário.
“Mulheres que têm histórico familiar de câncer ovariano ou aquelas que por algum motivo sabem ser portadoras de mutação nos genes BRCA-1 ou BRCA-2 devem ser avaliadas periodicamente, além de se discutir a possibilidade de cirurgia para remover os ovários e as trompas de falópio”, finaliza a ginecologista.
A recomendação é que as mulheres visitem, anualmente, o médico ginecologista e façam todos os exames de rotina, além de manter um estilo de vida saudável.
Referência:
- INCA/MS. Estimativa de Câncer no Brasil, 2023. Rio de Janeiro: Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros/estimativa/por-neoplasia-taxas-ajustadas. Acessado em: 10 de dezembro de 2022.
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