Condição pode ser sintoma de uma alteração no organismo feminino ou sinal de problemas mais graves. Saiba o que fazer em cada situação
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
A dor pélvica é conhecida de grande parte das mulheres. O desconforto acontece na parte inferior do abdômen, logo abaixo do umbigo. Essa é uma das doenças que não escolhe um único perfil, já que ela pode atingir meninas, adolescentes, adultas, que passaram ou não pela maternidade e até as que já estão na menopausa ou na terceira idade.
Ela é categorizada em dois tipos: aguda e crônica. A dor pélvica aguda pode ter origens não ginecológicas, como constipação e bexiga cheia, mas também por menstruação ou gravidez. Para saber se a dor merece mais atenção e uma visita a um consultório, basta observar sua duração: se durar até cinco dias, é sinal de que há alguma alteração (dessas mencionadas anteriormente). Caso persista de um a seis meses, é necessário urgência para descobrir sua origem e iniciar o tratamento.
Segundo informações da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a dor pélvica crônica (DPC) se apresenta como uma das principais causas de encaminhamento de mulheres aos serviços de saúde. Dados também mostram que a DPC pode atingir até 26,6% das mulheres em idade reprodutiva, e sua taxa de recorrência ao longo da vida pode chegar a 33%.
Causas mais comuns de dor pélvica
De acordo com o ginecologista e obstetra Dr. Ricardo de Almeida Quintairos, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Endometriose da FEBRASGO, “a pelve é uma espécie de funil, formada por uma musculatura extremamente complexa. Vários órgãos da região ‘afunilam’ para lá e, por isso, pode haver uma gama de alterações”. Entretanto, é necessária a investigação de cada caso, já que a DPC pode desencadear doenças graves, como:
- Síndrome da bexiga dolorosa
- Cistite (inflamação da bexiga)
- Colite
- Endometriose
- Fibromialgia
- Câncer do endométrio
- Câncer de colo de útero
- Câncer de ovário
- Entre outras
“A mulher pode sentir dor pélvica em decorrência de reto cheio, constipação crônica, dor miofascial (distúrbio que gera pressão sobre pontos sensíveis dos músculos), infecção urinária, cálculo renal, relação sexual, orgasmo, doenças da coluna. Até uma apendicite ou uma dieta errada pode ser a responsável pela DPC”, exemplifica o médico.
A dor pélvica não tratada pode afetar a fertilidade?
Depende da causa e origem da dor.
“Se a DPC for uma em decorrência de fibromialgia, por exemplo, não causa infertilidade. Mas se ela for resultado de endometriose, aí sim pode acontecer a infertilidade”, explica o Dr. Ricardo Quintairos.
Tratamento para a dor pélvica
O profissional afirma que o mais importante no momento do diagnóstico é o histórico clínico. Ou seja, a paciente precisa chegar ao consultório e falar, realmente, tudo o que sente, o que já sentiu, como estão as rotinas de alimentação, funcionamento do intestino e do reto, relação sexual e até presença de doenças autoimunes.
“O correto é essa mulher passar por uma multiavaliação, com uma equipe formada por ginecologista, fisioterapeuta, coloproctologista, nutricionista, anestesiologista e psicólogo, já que, muitas vezes, a dor é tanta que pode abalar psicologicamente a mulher”, indica o médico.
“Os exames são bem diversos. Para uma mulher virgem, por exemplo, são solicitados testes diferentes do que para outra que tem vida sexual ativa”. Segundo o ginecologista, no geral, a mulher virgem tem a tendência a ter uma DPC de menor intensidade, já que, por ser muito jovem, tende a ter doenças de menor gravidade. Diferente de mulheres com 30 ou 40 anos, que já se classificam numa condição maior de risco.
“A manutenção do organismo acontece com os exames preventivos. Procure um médico de sua confiança e mantenha seu calendário de análises em dia”. Com o diagnóstico em mãos, é hora de iniciar o tratamento da causa-raiz do problema e fazer o acompanhamento para saber a evolução da DPC.
Será que essa dor vai passar?
A mulher que sofre de uma dor intensa e constante, como a que tem fibromialgia, DPC ou os dois quadros clínicos ao mesmo tempo, se “acostuma” a sentir dor e reclamar sempre. Mas não deveria.
O Dr. Ricardo ainda alerta para aquelas conversas que costumam acontecer com outras mulheres da família ou amigas, que dão sua opinião, mas não são profissionais. “Ela pode ouvir aqueles clássicos conselhos errados ‘quando se casar, passa’, ou ‘quando tiver filho, passa’, ou ‘vai passar depois da menstruação’. É ideia é que vai passar um dia em um futuro distante. Só que o tempo vai passando enquanto a dor está sendo desvalorizada. O tempo e a vida”.
“Sentir dor não é normal e não podemos relativizar a dor. Não se pode acreditar que é normal sentir dor enquanto defeca, urina, menstrua, anda, quando faz exercício físico ou tem relação sexual. Quem sente dor ao fazer uma dessas coisas precisa buscar ajuda profissional”, finaliza Dr. Ricardo.