Condição pode afetar a autoestima e o bem-estar da mulher. Mas a boa notícia é que o tratamento existe e é fácil driblar essa situação.
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
“Hoje eu não estou com vontade”. Essa frase tem sido normal para você, mulher que vive o climatério? Pois saiba que você não é a única, e que faz parte de uma estatística: segundo estudos internacionais e nacionais sobre a prevalência de disfunção sexual feminina, cerca de 40% a 55% das mulheres climatéricas sofrem desse mesmo problema. E, embora a falta de vontade sexual atinja tantas mulheres, é importante lembrar que isso não é normal e nem saudável. Muito pelo contrário.
O climatério compreende a faixa etária entre 40 e 65 anos, período que o organismo passa por algumas mudanças e se prepara para a menopausa. “Essa diminuição no desejo sexual pode ser atribuída a uma combinação de fatores hormonais, psicológicos e sociais. Além disso, os sintomas comuns do climatério, como fogachos, mudanças de humor e distúrbios do sono, podem agravar ainda mais essa condição”, afirma a ginecologista Dra. Fabiene Vale, professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Sexologia da FEBRASGO.
A médica explica que, ao ir ao consultório para consultas de rotina ou queixas em busca de soluções para os sintomas da menopausa, as mulheres relatam vários pontos, mas raramente comentam sobre a diminuição do apetite sexual, que muitas consideram ser normal devido à chegada da idade. “Algumas mulheres aceitam a queda do desejo sexual como uma condição inevitável do envelhecimento, desconhecendo que é um sintoma do climatério que pode ser abordado e tratado”.
Desejo sexual hipoativo (DSH)
Esse problema desconsiderado por muitas pessoas tem nome: desejo sexual hipoativo (DSH) e pode ser tratado, proporcionando à mulher mais qualidade de vida maior autoestima e prazer sexual.
De acordo com a Dra. Fabiene, é possível entender o que acontece dentro do organismo e compreender melhor as reações e desejos (ou a falta deles) do corpo. O primeiro passo é identificar o que está causando a falta de interesse sexual.
O principal fator biológico que ocorre no climatério é a alteração hormonal, que inclui a diminuição dos níveis de estrogênio e testosterona durante a menopausa – o que, por sua vez, pode levar à redução da lubrificação, secura vaginal e outros sintomas que podem reduzir significativamente a vontade e a resposta sexual.
Além disso, a atrofia vulvovaginal decorrente dessa queda hormonal pode causar dor durante o ato sexual, contribuindo para a diminuição do desejo sexual. Condições médicas como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas e os efeitos colaterais de certos medicamentos também são fatores relevantes que podem impactar negativamente na baixa do desejo sexual.
Os fatores psicológicos também desempenham um papel importante. Estresse, ansiedade, depressão e problemas de autoestima são fatores que podem influenciar negativamente o desejo sexual. “A saúde mental e emocional da mulher é fundamental para a manutenção de uma vida sexual saudável, e qualquer perturbação nesse equilíbrio pode refletir na redução do desejo sexual”, relata a Dra. Fabiene.
Também é importante levar em consideração o histórico familiar e cultural dessa mulher, que mesmo estando em 2024, pode, ainda, sentir vergonha de conversar sobre o assunto mesmo com a médica de sua confiança, por acreditar que o assunto é íntimo demais.
Igualmente significativos são os fatores sociais. “Problemas de relacionamento, falta de comunicação com o parceiro e expectativas culturais podem contribuir para o desejo sexual hipoativo. A disfunção sexual masculina também pode afetar indiretamente o desejo sexual da mulher, criando um ciclo de frustração”, explica a presidente da CNE de Sexologia da FEBRASGO.
Tratamento
É importante ressaltar que, embora o desejo sexual hipoativo cause desconforto, existe tratamento. A condição é simples de ser diagnosticada, tem um tratamento fácil de seguir, e garante uma melhora significativa na vida das mulheres que estão passando pelo climatério. “A investigação e tratamento do DSH nas mulheres é de extrema importância para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar emocional das mulheres de meia-idade. A função sexual é uma parte fundamental da saúde e satisfação pessoal e relacional”, finaliza a Dra. Fabienne Vale.
Quando não abordada, a falta de desejo sexual pode levar a problemas de autoestima, sofrimento significativo e conflitos no relacionamento, além de ser um possível indicativo de outras condições médicas subjacentes que necessitam de atenção. Então, vale a pena confiar na médica e relatar suas dificuldades. Afinal, não tem idade limite para sentir prazer!