Grávidas e mulheres no pós-parto são as mais afetadas pela doença, que é a terceira maior causa de morte materna no País.
Por Letícia Martins e Priscila Horvat, jornalistas com foco em saúde
Conforme a gravidez avança, é comum a gestante sentir inchaço e dor nas pernas e nos pés. No entanto, esses sintomas precisam ser bem avaliados, pois podem indicar também uma trombose ou tromboembolismo, doença que atinge principalmente mulheres entre 20 e 45 anos, que estão na fase fértil, grávidas e puérperas (mulheres que tiveram parto há 45 dias).
“Na gravidez, o risco de ter trombose aumenta de 5 a 10 vezes, enquanto no pós-parto, é 30 vezes maior. Por isso, toda gestante precisa ser avaliada para o risco de trombose e orientada sobre como prevenir a doença, principalmente se estiver hospitalizada”, explica a médica Dra. Venina Ramos, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Tromboembolismo Venoso e Hemorragia na Mulher da Febrasgo, membro do Grupo de Trombose e Trombofilias na Gravidez do Hospital das Clínicas de São Paulo e diretora da Clínica Barros & Barros.
Outro motivo para as mulheres ficarem de olho em possíveis sintomas de trombose é a maternidade tardia. “A gravidez tem acontecido mais tarde, no Brasil e em todo o mundo, com gravidezes acontecendo depois dos 30, 35, 40 anos, com gerações de fertilização in vitro (FIV) e até algumas gemelares”.
Mulheres com mais de 40 anos no pós-parto significam um risco extra. E quanto mais informação junta à ficha dessa mulher, como tabagismo, varizes, gestação gemelar, câncer ou quimioterapia durante a gestação, maior o risco que ela corre de sofrer uma trombose.
Principais causas de morte materna
“No Brasil, a trombose já representa 5% das causas de morte materna. Mas a embolia pulmonar é subdiagnosticada. Muitos casos de mães que morreram no parto nem seguem para a autópsia, e a morte fica como ‘causa não determinada’. Em países de primeiro mundo, que fazem autópsia e tem diagnóstico, essa já é a terceira maior causa de morte materna”.
Por isso é tão importante ficar de olho nos sinais que aparecem junto com a trombose, e buscar atendimento médico o mais rápido possível se sentir um ou mais sintomas suspeitos. Essa regra é geral, atende todas as pessoas, inclusive as grávidas.
Entre as principais causas de morte materna estão a hipertensão, hemorragia, infecção. E, segundo conta a Dra. Venina, muitos óbitos em decorrência dessas comorbidades também culminaram em trombose. “Toda gestante, ao ser hospitalizada, seja durante a gravidez ou na hora do parto, mesmo que prematuro, pode sofrer com infecção urinária, por exemplo, e precisar de repouso. Só isso já é o suficiente para aumentar o risco de embolia pulmonar e de trombose”, revela.
O risco continua no pós-parto. “Muita coisa pode acontecer no pós-parto. A mulher precisa ficar de repouso, principalmente se teve um sangramento exagerado. Mas o principal método de evitar trombose no pós-parto é se levantar rapidamente”, explica Dra. Venina.
Dra. Venina ressalta ainda que, independentemente do tipo de parto, a mãe tem que estar andando, no máximo, seis horas após o nascimento do bebê. Isso porque, neste momento, levantar-se, estar em pé e andar, mesmo que pouco, é o único exercício que a mulher vai conseguir fazer, e manter uma rotina de atividade física, por menor que seja, é a principal forma de ajudar na circulação sanguínea e a prevenir a chegada da doença.
Prevenção
O assunto é tão sério que a Febrasgo criou um score de risco especialmente para esses casos, baseado na ferramenta do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Ele é eficaz para prevenir 85% por cento das tromboses relacionadas à hospitalização. A paciente tem que ter consciência que precisa conversar sobre esse assunto com o médico, para ser avaliada e saber se corre o risco de sofrer uma trombose durante ou após a gestação”.
Vale ressaltar que, mesmo com a seriedade da doença, que pode até levar ao óbito, a trombose é uma condição possível de se prevenir com medidas simples e sem grandes investimentos. Para isso, é importante não passar muitas horas seguidas sentada, seja no trabalho ou em uma viagem, por exemplo.
Também é recomendado manter-se bem hidratada (35 ml de água por quilo do peso corporal), praticar atividade física regularmente e fazer os exames de rotina, incluindo os de colesterol e glicemia. Ou seja, garantir o básico e seguir um estilo de vida saudável já é o suficiente para manter a mamãe com menores chances de passar bem longe desta comorbidade.