Congelamento de óvulos x embriões: qual é a melhor técnica para a preservação da fertilidade

por Feito para Ela

Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde

Cada procedimento tem suas particularidades, vantagens e taxas de sucesso. A escolha entre uma e outra depende de diversos fatores individuais.

Nos últimos anos, cresceu no Brasil o interesse pela preservação da fertilidade não apenas entre mulheres que precisarão passar por tratamentos que comprometem a reserva ovariana, mas também entre aquelas que desejam adiar a maternidade ou que pretendem doar óvulos.

Nesse contexto, o congelamento de óvulos e de embriões tornou-se uma das principais estratégias para quem quer preservar o potencial reprodutivo.

As técnicas são especialmente indicadas em casos de doenças que exigem tratamentos como quimioterapia, radioterapia ou transplante de medula óssea, além de situações de risco para insuficiência ovariana precoce. Mas também beneficiam mulheres que, por escolha ou circunstância, optam por engravidar mais tarde.

Independentemente do motivo, os métodos mais utilizados para preservar a fertilidade são o congelamento de óvulos e o de embriões.

“O sucesso de cada procedimento está diretamente relacionado a fatores individuais, como a idade da mulher no momento do congelamento e a qualidade dos óvulos ou embriões”, explica a Dra. Rivia Mara Lamaita, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Reprodução Assistida da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

Como funciona o congelamento de óvulos e embriões

Tanto para congelar óvulos quanto embriões, o primeiro passo é a estimulação ovariana controlada (EOC), feita com medicamentos para induzir os ovários a produzirem múltiplos óvulos em vez de apenas um, como ocorre naturalmente.

O crescimento folicular, necessário para o desenvolvimento dos óvulos até a fase de maturação, leva cerca de duas semanas. “O acompanhamento constante por meio de ultrassonografias transvaginais é essencial durante todo o processo”, ressalta a Dra. Rivia, que é professora adjunta dos departamentos de Ginecologia e Obstetrícia da UFMG e de Saúde da Mulher da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG).

Após a maturação, os óvulos podem ser coletados e vitrificados (congelados) ou fertilizados em laboratório, dando origem aos embriões.

A estimulação pode ser iniciada no começo do ciclo menstrual ou adaptada a outras fases, conforme a necessidade. Em pacientes oncológicas, há protocolos específicos que reduzem a exposição ao estrogênio, minimizando riscos. “É preciso adiar o início da quimioterapia ou da cirurgia ovariana por, no mínimo, duas semanas para viabilizar a criopreservação”, reforça a especialista.

Congelamento de óvulos

Quando a preservação da fertilidade tem como motivação razões pessoais ou relacionadas a condições benignas, a criopreservação de óvulos geralmente é a técnica mais indicada.

Para mulheres em idade avançada que desejam adiar a maternidade, essa técnica pode ser uma estratégia eficaz para prolongar sua fertilidade, considerando a queda na qualidade dos óvulos com o envelhecimento.

Os óvulos maduros podem ser coletados e imediatamente congelados. Quando forem descongelados, eles serão inseminados e os embriões resultantes serão transferidos para o útero.

A eficiência do congelamento de óvulos, medida pelas taxas de nascidos vivos, varia significativamente de acordo com a idade da mulher no momento do congelamento:

  • Até 35 anos: com 8 a 10 óvulos, as chances de nascimento chegam a 40,8% e 60,5%, respectivamente.
  • Acima de 35 anos: as taxas caem para 19,9% e 29,7%, com o mesmo número de óvulos.

Esses dados indicam que o congelamento de óvulos de mulheres mais jovens oferece uma chance significativamente maior de sucesso. “O congelamento de óvulos oferece às mulheres maior autonomia reprodutiva, já que, nesse caso, elas não precisam depender de um parceiro e podem recorrer a um banco de esperma para gerar embriões”, explica a Dra. Rivia.


Congelamento de embriões

A criopreservação de embriões é uma prática consolidada na medicina reprodutiva há mais de 30 anos. Atualmente, a taxa de sucesso da transferência de embriões congelados, após preparo endometrial, é comparável à de embriões frescos. Isso significa que o tempo de armazenamento, mesmo prologando, não interfere nas chances de sucesso após o descongelamento.

Depois da estimulação ovariana, os óvulos maduros são coletados e fertilizados em laboratório, por meio da fertilização in vitro (FIV) ou da injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). “Os embriões são acompanhados do segundo até o quinto ou sétimo dia de desenvolvimento, e os que apresentarem boa qualidade são criopreservados, isto é, congelados”, explica a médica.

Para utilizar os embriões congelados, é necessário preparar o endométrio da paciente antes da transferência. O procedimento segue orientações éticas quanto ao número de embriões a serem transferidos.

Em média, as taxas de gravidez clínica após a transferência de embriões congelados giram em torno de 49%, com taxa de nascidos vivos entre 35% e 41%.

Vale lembrar que esses índices podem variar de acordo com a idade da mulher e a qualidade dos embriões no momento do congelamento.

Então, qual técnica escolher?

Ambas as opções são eficazes para preservar a fertilidade, com vantagens e taxas de sucesso que variam conforme o perfil da paciente. “A escolha entre congelar óvulos ou embriões deve ser feita com base em uma avaliação criteriosa e individualizada, sempre com orientação de um especialista em fertilidade”, finaliza a Dra. Rivia.

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