Síndrome Dolorosa Vesical: saiba quando a dor na bexiga não é infecção

por Feito para Ela

Ainda pouco diagnosticada, essa condição crônica compromete o bem-estar de muitas mulheres.

Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde

Urinar com dor, sentir uma pressão constante na bexiga, correr ao banheiro várias vezes ao dia e à noite e viver um breve alívio logo após esvaziar a bexiga. Para muitas mulheres, essa rotina desconfortável se repete por meses ou até anos, enquanto os exames não acusam qualquer infecção. Diante disso, o diagnóstico mais comum acaba sendo… nenhum.

Entre tentativas frustradas e prescrição de múltiplos antibióticos, surge uma possibilidade ainda pouco conhecida, mesmo entre profissionais da saúde: a síndrome dolorosa vesical, que por muito tempo foi conhecida como síndrome da bexiga dolorosa. A condição inclui a cistite intersticial (SDV/CI) e representa um grande desafio de diagnóstico, tanto para pacientes quanto para médicos.

“A SDV/CI é uma das doenças que mais afetam a qualidade de vida da paciente, levando a alterações comportamentais, emocionais e sexuais”, afirma o Dr. Sergio Brasileiro Martins, mestre e doutor em ciências, chefe do setor de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Muitas vezes, a paciente com SDV/CI é tratada por anos como quadro de infecção urinária, sendo prescritos inúmeros ciclos de antibióticos. A doença também é confundida com a síndrome da bexiga hiperativa ou até mesmo com a endometriose. Esse cenário de sobreposição de sintomas, aliado ao desconhecimento sobre a doença, acaba atrasando tanto o diagnóstico quanto o tratamento adequado.

“O principal obstáculo é a dificuldade em chegar a esse diagnóstico, principalmente quando não há um olhar direcionado ao trato urinário”, explica a ginecologista Dra. Marair Gracio Ferreira Sartori, presidente da CNE de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Febrasgo.

Estima-se que a doença atinja de 2,7% a 6,5% das mulheres adultas, mas esse número pode ser bem maior, devido à subnotificação. “Como toda dor crônica, é comum que a paciente procure vários médicos para ter esse diagnóstico”, pontua a Dra. Marair.

A SDV é mais prevalente entre os 30 e 50 anos e frequentemente se associa a outras síndromes de dor crônica, como síndrome do intestino irritável, fibromialgia e cefaleia.

Sintomas e diagnóstico

Entre os sintomas mais relatados pelas pacientes estão:

  • Dor na bexiga;
  • Urgência e frequência urinária aumentada (com piora à noite);
  • Histórico de dor pélvica crônica;
  • Síndrome do intestino irritável;
  • Fibromialgia;
  • Cefaleias (dores intensas de cabeça);
  • Infecções urinárias recorrentes, mas com exames de urocultura negativos.

Muitas pacientes também relatam piora dos sintomas em períodos do ciclo menstrual, sob estresse ou após a ingestão de determinados alimentos.

O diagnóstico é clínico, baseado no histórico detalhado, exame físico e exames laboratoriais básicos para excluir outras causas. Os sintomas devem persistir por pelo menos seis semanas e as culturas de urina devem ser negativas. Urina tipo 1, urocultura e ultrassonografia pélvica são exames essenciais; a cistoscopia é indicada apenas em casos selecionados.

Tratamento é possível

Apesar de não ter cura definitiva, a síndrome tem tratamento. “O objetivo é tirar a paciente do sofrimento”, enfatiza o Dr. Sergio. “É importante deixar claro para essa mulher que o tratamento é prolongado, é comum haver a combinação de terapias e que poderá haver períodos de remissão e recaídas da doença”.

O tratamento envolve medidas comportamentais, como reeducação vesical, adequação da ingestão de líquidos e mudanças na dieta, evitando café, bebidas alcoólicas, gaseificadas, frutas cítricas e chá, por exemplo. Também é importante o controle do estresse, uso de calor e frio no local e, principalmente, fisioterapia do assoalho pélvico.

O tratamento inclui medicamentos orais como analgésicos e antipiréticos, que atuam atua na redução da dor, febre e cólica; os antidepressivos tricíclicos, que também atuam no controle da dor crônica; anticonvulsivantes moduladores da dor neuropática, além de anti-histamínicos, que possuem efeito sedativo e ansiolítico.

Para manejar uma doença tão peculiar, é importante que o tratamento seja multidisciplinar, envolvendo médico ginecologista ou urologista, fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas.

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