Sintomas da Síndrome da Bexiga Dolorosa vão além da dor pélvica

por Feito para Ela

Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde

Sem tratamento adequado, a doença pode comprometer a vida sexual, o sono, a saúde mental, a vida social e até a capacidade de trabalhar

Se você sente dor constante na bexiga, levanta-se várias vezes durante a noite para urinar, evita ter relações sexuais por desconforto e já tomou muitos antibióticos sem sucesso, talvez esteja diante de um diagnóstico que quase ninguém fala: a Síndrome da Bexiga Dolorosa, cujo nome correto é Síndrome Dolorosa Vesical, que inclui a Cistite Intersticial (por isso, chamada de SDV/CI).

Ainda pouco reconhecida, inclusive entre profissionais de saúde, essa condição crônica afeta entre 2,7% e 6,5% das mulheres adultas, segundo estimativas. No entanto, o número real pode ser bem maior, já que muitas pacientes permanecem anos sem um diagnóstico preciso. Nesse aspecto, há consenso entre os especialistas: o grande desafio está justamente na dificuldade de identificar a doença.

Sem o tratamento adequado, a SDV/CI pode comprometer múltiplas esferas da vida. “A dor pélvica impede que a mulher possa ficar em locais distantes de banheiros, pois a necessidade de urinar é constante”, explica a Dra. Marair Gracio Ferreira Sartori, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “Diversos alimentos ou bebidas desencadeiam a dor, atrapalhando uma dieta livre. A relação sexual pode ser dolorosa, afetando relacionamentos”, continua a ginecologista.

Além do impacto físico, há consequências emocionais significativas, conforme relata a Dra. Andreisa Paiva Monteiro Bilhar, membro da CNE de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Febrasgo e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). “O impacto é profundo: ansiedade, depressão, isolamento social e diminuição da qualidade de vida são muito frequentes. Estudos mostram que o sofrimento psicológico é um componente crítico da síndrome”, afirma a médica.

Como levar o assunto ao consultório

Muitas mulheres se sentem envergonhadas ou desacreditadas ao tentar descrever seus sintomas. Para ajudar nesse diálogo entre médico e paciente, a Dra. Andreisa propõe perguntas que podem levantar a suspeita da síndrome e ajudar o profissional a chegar ao diagnóstico, como:

  • “Você sente dor ao encher a bexiga?”
  • “A dor melhora após urinar?”
  • “Com que frequência você urina durante o dia e à noite?”
  • “Já tratou infecções urinárias que não melhoraram com antibióticos?”
  • “Percebe relação dos sintomas com alimentos, bebidas ou períodos de estresse?”

“Essas perguntas ajudam a levantar a suspeita e evitar diagnósticos equivocados. O encaminhamento a especialistas em uroginecologia ou urologia é recomendado em casos de sintomas refratários, dúvidas diagnósticas ou necessidade de procedimentos como cistoscopia”, orienta a profissional.

A dor precisa ser levada a sério

“O papel do ginecologista é entender as queixas da paciente e, principalmente, esclarecer sobre o que é a doença, explicar que é crônica, mas que pode ser controlada e melhora, porém raramente é curada. Assim a paciente conseguirá entender e ter adesão aos tratamentos propostos, com expectativas de tratamento alinhadas à realidade”, conclui a Dra. Marair.

É importante destacar que, embora a Síndrome Dolorosa Vesical não seja invisível, ainda não é reconhecida como deveria. Mas o primeiro passo para mudar isso é ouvir, acolher e tratar com seriedade quem sente na pele (e na bexiga) os impactos dessa dor.

Por isso, mulheres, não sintam vergonha de contar os pormenores de seus sintomas. Às vezes, seja por vergonha ou por acreditar que não merecem ser mencionados, a falta de colocar essas informações para fora, no consultório, pode colaborar com um diagnóstico tardio e, pior ainda, fazer com que uma doença, suas dores e consequências sejam carregadas por anos.

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Síndrome Dolorosa Vesical: saiba quando a dor na bexiga não é infecção
https://feitoparaela.com.br/2025/09/22/sindrome-dolorosa-vesical-saiba-quando-a-dor-na-bexiga-nao-e-infeccao/

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