Chip da beleza: por que ele é um risco para a saúde das mulheres

por Feito para Ela
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Aumento de acne e crescimento do clitóris são alguns dos possíveis efeitos colaterais do implante de gestrinona; CFM já proibiu o uso para fins estéticos e ganha de massa muscular.

Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde.

Recentemente a internet ficou agitada com a divulgação de casos de mulheres que emagreceram com rapidez e facilidade depois de usarem um implante hormonal que ficou conhecido como “chip da beleza”. O nome atrativo sugere que ele traz somente benefícios para a mulher. No entanto, há vários riscos envolvidos na utilização deste implante. Mas o que é exatamente este “chip da beleza”, para que serve e quais seus efeitos adversos?

A gestrinona é uma substância sintética, ou seja, não é produzida naturalmente pelo organismo, e tem ação anabolizante, isto é, pode simular a ação da testosterona (um hormônio masculino), promovendo o ganho de massa muscular, a perda de peso e o aumento da libido.

Ela foi desenvolvida há cerca de 40 anos por um ginecologista brasileiro com a finalidade de controlar algumas doenças ginecológicas, como endometriose, adenomiose e miomas. Porém, especialistas alertam que tais efeitos benéficos são secundários considerando os riscos colaterais do uso de gestrinona.

Implante de gestrinona, conhecido como “chip da beleza”, não é recomendado pela Febrasgo.

“É importante esclarecer que o termo chip da beleza é completamente inadequado, pois não se trata de um dispositivo eletrônico e sim de um implante hormonal. Em segundo lugar, vale ressaltar que não existem estudos científicos que comprovem a segurança e os benefícios do implante de gestrinona para as mulheres”, explica a ginecologista Dra. Cristina Laguna, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) em Ginecologia Endócrina da FEBRASGO.

“O que existem são alguns estudos antigos com gestrinona por via oral que apontam os benefícios para alguns tratamentos, por exemplo, da endometriose. No entanto, o que vale para medicamentos administrados em comprimidos ou cápsulas não pode ser necessariamente transportado para o implante”, acrescenta Dra. Cristina, que também é professora associada do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp).

Aumento da acne é um dos efeitos colaterais do implante gestrinona.

Não confundir com implante de anticoncepcional

É importante não confundir o implante de gestrinona com o implante de anticoncepcional, usado para evitar gravidez indesejada pelo período de até três anos.

O implante de anticoncepcional é composto por um hormônio chamado etonogestrel, que pertence ao grupo dos progestagênios e age bloqueando a ovulação. “Existem vários estudos científicos mostrando que o etonogestrel na forma do implante consegue evitar a gravidez de maneira segura e eficaz”, afirma o ginecologista Dr. Rogério Bonassi, presidente da CNE de Anticoncepção da FEBRASGO. “As taxas de falha são muito baixas. Cerca de 0,1 para cada 100 mulheres ao ano teriam o risco de engravidar usando o implante de etonogestrel. A eficácia é comparável a da laqueadura”, reforça.

Ao contrário do implante de gestrinona, o implante de anticoncepcional foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é vendido no Brasil com o nome de Implanon, e reconhecido como método contraceptivo pela FEBRASGO.

O implante de anticoncepcional é feito pela indústria farmacêutica seguindo protocolos que garantem a liberação do hormônio na dose correta para evitar a gestação. “Por isso, ele é regulamentado como implante contraceptivo, o que não acontece com o implante de gestrinona.  Embora a gestrinona também pertença ao grupo dos progestagênios e possa ter atividade anti-ovulatória, não existem estudos que comprovem a eficácia como um método contraceptivo”, esclarece Dr. Rogério, reforçando a mensagem: “O implante de gestrinona não é regulamentado no Brasil e não existem estudos clínicos mostrando qual é a taxa de liberação de hormônios tampouco a sua segurança e eficácia como um contraceptivo. Ou seja, são implantes diferentes. E o nome chip da beleza é absolutamente inadequado.”

Para completar, Dr. Rogério explica que o implante de anticoncepcional é indicado para mulheres de todas as idades, inclusive adolescentes e aquelas que estão na pré-menopausa, para quem não pode ou não quer tomar estrogênios (pílulas). Ele é contraindicado para mulheres que têm câncer de mama, câncer do colo do útero, câncer do endométrio, doenças do fígado graves, entre outras.

“Como toda medicação, o implante de anticoncepcional também pode apresentar efeitos colaterais. O mais comum são sangramentos irregulares, principalmente nos primeiros três a seis meses com tendência de melhorar espontaneamente, além de dor de cabeça e dor nas mamas. Mas a taxa de mulheres que precisa remover o implante devido a efeitos colaterais é muito baixa”, expõe o ginecologista.

Quais os efeitos colaterais do implante de gestrinona?

O gestrinona de gestrinona é inserido no glúteo da mulher, após anestesia local, e libera doses de hormônio na corrente sanguínea de forma contínua. O resultado do encontro da gestrinona com proteínas e outros hormônios presentes no corpo da mulher provoca reações químicas que favorecem o ganho de massa muscular e a queima de gordura.

Com isso, a mulher pode perder peso, ficar feliz e indicar para outras pessoas. Mas os problemas começam a aparecer e nem sempre as pessoas os relacionam ao uso do implante. Entre os efeitos colaterais mais comuns, estão:

  • surgimento de acne;
  • piora da oleosidade da pele;
  • queda de cabelo;
  • aumento de pelos no corpo;
  • mudança no timbre da voz (rouquidão) e
  • crescimento do clitóris.

Dra. Cristina alerta que o uso de gestrinona na versão oral foi abandonado devido ao aparecimento desses sintomas e que os dois últimos efeitos colaterais (engrossamento da voz e aumento do clitóris) são irreversíveis. “Às vezes, por não terem a percepção dos problemas futuros ou acharem que não vão sofrer esses efeitos adversos, muitas mulheres prolongam o uso desses hormônios e colocam em risco a própria saúde”, alerta a Dra. Cristina.

Proibição do Conselho Federal de Medicina

Existem perfis de mulheres que necessitam repor o hormônio testosterona, como pacientes com transtorno do desejo sexual hipoativo (DSH), caracterizado pelo desinteresse pelas relações sexuais durante um período maior que seis meses, e mulheres com alterações da libido na pós-menopausa. Contudo, qualquer tratamento hormonal só deve ser iniciado após a recomendação médica, seguida de um longo acompanhamento do caso. No entanto, devido à ausência de estudos científicos que comprovem a segurança e a eficácia do implante de gestrinona, a FEBRASGO e outras instituições médicas apoiam a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) de março de 2023 proibindo que médicos prescrevam terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes (entre eles a testosterona) para fins estéticos, ganho de massa muscular e melhora de performance esportiva.

“Se não há estudos sobre os efeitos do implante de gestrinona para tratar doenças, entendemos que ele está sendo usado para fins estéticos ou de desempenho físico e, portanto, está enquadrado na resolução do Conselho Federal de Medicina. A CNE de Ginecologia Endócrina da FEBRASGO entende que o médico não deve prescrevê-lo”, afirma a Dra. Cristina. Portanto, a FEBRASGO não recomenda o uso do implante hormonal de gestrinona nem para tratamento da endometriose ou outras doenças ginecológicas nem para fins estéticos e de ganha de massa muscular e aconselha a todas as mulheres a pensarem sempre no bem-estar e na saúde antes de aderir a procedimentos exclusivamente com fins estéticos.

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