Gaslighting: qual a origem dessa manipulação psicológica?

por Beatriz Melo

O termo é usado para designar um tipo de abuso psicológico em que informações são manipuladas fazendo a vítima se sentir confusa.

Por Bia Sanas Zamboni e Letícia Martins, jornalistas

“Você está maluca”, “nada disso aconteceu”, “você está imaginando coisas”. Essas frases são frequentes na boca de abusadores psicológicos. As vítimas começam a duvidar da própria percepção da realidade e os estragos dessa manipulação podem ser tão sérias quanto uma agressão física. Este tipo de violência psicológica tem nome: gaslighting.

“O gaslighting é um tipo de abuso psicológico com o intuito de enganar alguém para obter uma vantagem pessoal. O abusador se encontra sempre em um lugar de desqualificar a percepção que a vítima está tendo”, esclarece a psicóloga clínica e neuropsicóloga Beatriz Ferrari das Neves.

O termo em inglês começou a ser popularizado recentemente nas redes sociais, mas sua primeira ocorrência foi em 1938, quando Patrick Hamilton compôs a peça de teatro “Gas Light”, que traduzido para o português significa “luz a gás”. O roteiro gira em torno de um casal, cujo marido diminui a intensidade da luz da casa, e, quando a esposa o questiona sobre o acontecimento, ele age como se nada estivesse diferente e afirma que ela está errada.

Com isso, a mulher começa a duvidar de sua própria percepção, como se estivesse “ficando louca”, mas a realidade é que o homem havia manipulado a esposa para que ela achasse que a luz do ambiente estava normal, até ficar na escuridão completa. Após muitas apresentações e o acolhimento por parte do público, a peça teatral sofreu uma adaptação para o cinema em 1944, com o mesmo título.

Como o gaslighting funciona?

Esse abuso ocorre quando uma pessoa convence outra a questionar sua memória, sanidade e percepção das coisas ao seu redor. Ao fazer isso, a pessoa perde a confiança em si e em seus atos, que podem ser distorcidos pelo abusador. O abuso pode ocorrer dentro de um relacionamento amoroso, profissional, religioso, familiar ou outro.

“A pessoa que sofre o abuso vai ficando mais reclusa, se encapsulando naquela realidade e a afasta do contato com outras pessoas”, expõe a psicóloga Carolina Colombino de Carvalho, acrescentando que não há como saber quais serão os efeitos a longo prazo desse abuso na vida da vítima, principalmente se ela não fizer tratamento com um terapeuta ou conversar com alguém de confiança sobre a situação.

De acordo com as psicólogas, dificilmente a vítima consegue sair do relacionamento enquanto estiver sob o domínio do abusador e não perceber o que está de fato acontecendo. Para sair desse ciclo de desvalorização e humilhação, a mulher pode recorrer a alguns meios, como a lei que protege de abusos psicológicos (Lei 14.188, de 2021), procurar a Delegacia da Mulher, que presta atendimento a qualquer tipo de violência contra as mulheres ou ligar para 180, que é o telefone da Central de Atendimento à Mulher, que oferece suporte para as vítimas de violência. Fazer terapia individual ou em grupos de acolhimento à mulher também é uma forma de ajudar a vítima a discernir o que está vivenciando e mudar o ciclo, mesmo não sendo fácil.

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