Depressão e ansiedade são alguns dos transtornos mentais mais comuns no Brasil e afeta principalmente as mulheres modernas. Entenda os motivos.
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
Cuidar da casa, dos filhos e da alimentação da família. Enfrentar o trânsito, administrar os compromissos profissionais, estudar, responder às inúmeras mensagens e não se esquecer de pagar aquela conta em dia. O que falta nessa rotina praticada por muitas mulheres? Você pode listar várias atividades, mas espero que uma delas em especial seja lembrada: cuidar da saúde mental.
Esse é o foco da campanha Janeiro Branco, que visa estimular uma cultura de saúde mental e de bem-estar emocional, além de chamar a atenção da população para os sintomas relacionados a doenças e transtornos mentais, como depressão e ansiedade. A campanha Janeiro Branco acontece mundialmente, mas entrou oficialmente no calendário brasileiro este ano com a sanção da lei em abril de 2023.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2019, quase um bilhão de pessoas do mundo vivem com algum transtorno mental, como depressão, ansiedade, fobia social, esquizofrenia e bipolaridade. O Brasil, por exemplo, está entre os países com altos índices de depressão e ansiedade, prevalentes entre as mulheres.
“Essas doenças podem ser debilitantes e afetar significativamente a rotina das pessoas, mas existem tratamentos e estratégias de autocuidado que podem ajudar a gerenciar os sintomas e permitem ter qualidade de vida”, declara a psiquiatra Dra. Claudine Cheim, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Transtornos mentais e fatores envolvidos
Por trás do surgimento dessas doenças podem estar múltiplos fatores biológicos, psicológicos e sociais, alguns dos quais relacionados ao estilo de vida estressante e às exigências do cotidiano de trabalho, por exemplo.
“No caso da mulher moderna, existem ainda os desafios e a importância do empoderamento, da autoestima, de estar muitas vezes inserida em meios nos quais há uma diferença significativa entre o valor do homem e da mulher. Historicamente, a mulher é colocada abaixo do homem”, analisa a Dra. Claudine.
A psiquiatra destaca também a síndrome de burnout como uma das consequências da busca diária das mulheres para conciliar uma dupla jornada das atividades profissionais e pessoais. A pesquisa Women in the Workplace 2021 (Mulheres no Mercado de Trabalho), feita pela consultoria McKinsey & Company e pela organização LeanIn, apontou que 42% das mulheres do planeta convivem com sintomas da síndrome de burnout.
“Isso causa, em grande parte, a saída dessas mulheres do mercado de trabalho, em até 50%, segundo a pesquisa. Por isso, procurar o equilíbrio entre esses papéis é fundamental para o bem-estar e a saúde mental”, afirma a psiquiatra, que completa: “É fundamental que as pessoas busquem autoconhecimento e ajuda especializada caso identifiquem sinais de problemas na saúde mental em si ou em pessoas próximas.”
Quais são os sintomas de transtornos mentais?
A Dra. Claudine Cheim lista alguns deles:
- Dificuldade em cumprir responsabilidades habituais no trabalho, escola ou família
- Desmotivação e falta de interesse em atividades que antes eram prazerosas
- Crises emocionais ou sofrimento emocional prolongado
- Sentimentos de desvalorização pessoal, intensa culpa ou pensamentos de morte e/ou ideação suicida
- Isolamento social, afastamento de familiares, colegas e amigos
- Dificuldade em dormir, irritabilidade ou dificuldade em acalmar
- Mudanças significativas na vida social e no modo como a pessoa se relaciona com os outros
- Alterações no humor, pensamento e comportamento.
Para finalizar, a psiquiatra ressalta: “É importante aumentar a conscientização sobre a saúde mental e promover o entendimento sobre o tema, para que mais pessoas possam buscar ajuda e apoio sempre que necessário.”
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