Dificuldade para engravidar pode estar relacionada à obesidade

por Feito para Ela

Irregularidades hormonais femininas são responsáveis por disfunções reprodutivas.

Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde

A revista científica The Lancet realizou um estudo com estimativas globais sobre obesidade, com análise da evolução da doença no período entre 1990 e 2022. O resultado é assustador. De acordo com a publicação, mais de um bilhão de pessoas vivem com obesidade em todo o mundo, sendo que essa taxa quadriplicou entre crianças e adolescentes, quase triplicou para os homens e duplicou para as mulheres.

“Já foi provado que a obesidade se associa ou causa pelo menos 13 tipos de câncer – e atinge homens, mulheres, adolescentes, crianças, idosos. Ou seja, independe da faixa etária, do sexo ou da condição social”, explica o endocrinologista Dr. Cristiano Barcellos, diretor do Departamento de Endocrinologia do Exercício e do Esporte da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).

Mesmo a obesidade sendo uma doença que não escolhe um perfil de pessoa, na mulher ela age com complicações maiores além das citadas anteriormente. De acordo com a Dra. Ana Carolina Japur de Sá Rosa e Silva, membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Ginecologia Endócrina da FEBRASGO, destacou a significativa influência da obesidade na saúde da mulher, especialmente na questão reprodutiva. “As mulheres obesas têm uma propensão a secretar mais testosterona devido à capacidade do tecido adiposo em produzir esse hormônio. O aumento da concentração de testosterona pode levar a distúrbios na ovulação, resultando em ciclos menstruais irregulares ou ausência de ovulação. Como a ovulação é essencial para a fertilidade, mulheres que não ovulam têm dificuldades em conceber”, esclarece a ginecologista obstetra.

Consequências da obesidade

Há bastante tempo se sabe que a obesidade feminina tem influência direta na dificuldade para engravidar, mas esse universo é muito maior e não pode ser encarado como apenas um pequeno problema. A obesidade em uma mulher em idade reprodutiva pode gerar ainda:

  • Diminuição dos ciclos ovulatórios (quando a mulher passa meses ou até um ano sem menstruar, por exemplo)
  • Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
  • Subfertidade ou infertilidade
  • Abortos espontâneos, com a dificuldade de manter a gestação
  • Pré-eclâmpsia
  • Câncer do endométrio

Segundo o endocrinologista, o corpo feminino se prepara para uma gestação, formando o habitat perfeito para a fecundação e para o desenvolvimento do feto. Entretanto, em uma mulher com sobrepeso, isso pode não ocorrer corretamente. Vamos entender o processo: depois que o espermatozoide fecunda o óvulo, forma-se um embrião que será implantado no útero e se desenvolverá, formando um feto. Se o corpo estiver saudável, o feto irá se desenvolver até o nascimento.

“Nos casos de mulheres com sobrepeso, é como se existisse uma condição hostil para esse feto se desenvolver, e a consequência disso são os chamados abortos espontâneos”, explica Dr. Cristiano. A obesidade ainda pode desencadear problemas de saúde, como gordura no fígado, diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares, como derrames ou infarto.

O que fazer?

Em primeiro lugar, é importante não apelar para dietas encontradas internet, pois elas podem causar o temido efeito sanfona. Dr. Cristiano ressalta que, muitas vezes, para realizar logo o sonho de uma gestação, há mulheres que restringem calorias de forma independente, isto é, sem apoio médico.

E o resultado pode ser catastrófico, resultando em um transtorno da compulsão alimentar periódica, por exemplo. “A pessoa come muitas vezes uma quantidade de calorias que ela não comeria nem em um único dia. Come de uma forma involuntária, que acredita ser para ‘compensar’ o que foi restrito anteriormente por ela mesma”, exemplifica Dr. Cristiano.

Assim, a recomendação para que a mulher possa perder peso de forma adequada e conseguir engravidar é fazer o acompanhamento com uma equipe de saúde multidisciplinar especializada. A segurança vem sempre em primeiro lugar!

Leia mais:

Obesidade pode desencadear doenças ginecológicas

Inscreva-se para receber os conteúdos mais importantes sobre saúde da mulher, bem-estar, empreendedorismo, carreira e muito mais!