Conheça a história da paulistana Beatriz Cavalcanti Freitas, que descobriu o câncer de mama no início de uma gravidez.
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
Aos 14 anos de idade, a paulistana Beatriz Cavalcanti Freitas foi diagnosticada com diabetes tipo 1, uma doença autoimune na qual o pâncreas para de produzir insulina e o paciente precisa injetar o hormônio várias vezes ao dia.
Desde a adolescência, Beatriz se acostumou à rotina de autocuidado: mede a taxa de açúcar no sangue antes e depois das refeições, aplica insulina, faz exercícios físicos regularmente e controla a alimentação. Ela conta que, no início, foi difícil entender e aceitar o diabetes, mas depois de algum tempo, aprendeu a conviver com a doença. Participou de eventos e cursos em uma associação de apoio a pacientes, a ADJ Diabetes Brasil, e fez amigos que convivem com a mesma condição que ela e, portanto, enfrentam desafios parecidos.
Porém, no início de 2024, aos 28 anos, outro diagnóstico surgiu na vida dessa engenheira de produção. Ao fazer o autoexame nas mamas durante o banho, Beatriz percebeu que havia algo diferente em seu corpo. Ela sentiu um caroço em um dos seios e pediu a opinião da mãe, que também encontrou algo estranho, mas tentou tranquilizar a filha.
O fato, no entanto, não saía dos pensamentos da Beatriz e ela resolveu marcar uma consulta com uma ginecologista. “Em um ultrassom de mama, foi confirmado um nódulo, mas a médica disse que eu não devia me preocupar porque era benigno. Como eu estava de férias, resolvi fazer um check-up e aproveitei para marcar uma visita a um mastologista, que pediu uma biópsia do nódulo”, conta a jovem.
Beatriz também tinha o sonho de ser mãe. Começou a planejar a gravidez, quando um teste deu positivo: estava grávida. Em paralelo, veio o resultado da biópsia e, no dia 28 de março de 2024, Beatriz recebeu o diagnóstico tão temido: estava com um carcinoma mamário invasivo. “Eu fiquei totalmente apavorada, porque eu nunca havia imaginado essa situação, principalmente com uma gravidez recente de nove semanas”, relembra.
Tratamento do câncer
Assim que descobriu do que se tratava, Beatriz marcou uma consulta em um hospital de referência no tratamento de câncer. Munida de todos os exames realizados anteriormente, ela se apresentou ao médico: “Contei que estava com câncer, grávida e que tinha diabetes: um combo triplo”, relata Beatriz.
Desde então, ela vem sendo acompanhada de perto por uma equipe de especialistas, entre eles médico obstetra, endocrinologista e mastologista.
Grávida aos 29 anos, Beatriz está conseguindo superar duas doenças graves graças ao diagnóstico precoce e o tratamento médico adequado. “O câncer que tenho é muito agressivo. Quando eu descobri, o nódulo tinha um centímetro, e hoje tem 4,5 centímetros. Ele evoluiu rápido também por causa dos hormônios da gestação. Mas se eu não tivesse descoberto logo, ia estar muito pior do que agora”, analisa a jovem.
Conhecer o próprio corpo, ficar atenta às mudanças que podem ocorrer e procurar o médico caso algo fora do comum se manifeste são atitudes que podem salvar uma vida, ou, como ocorreu com Beatriz, duas vidas.
Esta é uma das primeiras fotos que Beatriz Cavalcanti de Freitas, 29 anos, fez depois que iniciou o tratamento contra o câncer de mama. “Esperança”.
Rastreamento e a diagnóstico do câncer de mama
No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas no Sul e Sudeste, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), mas é a primeira causa de morte por câncer entre as brasileiras.
Diferentemente dos Estados Unidos e países europeus, no Brasil, de 35% a 40% das pacientes com câncer de mama têm menos de 50 anos de idade. Por essa razão, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a Sociedade Brasileira de Mastologia, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica recomendam que todas as mulheres assintomáticas façam a mamografia anualmente a partir dos 40 anos para rastrear o câncer de mama.
“O rastreamento por mamografia é importante porque mostra algo que ainda não pode ser sentido”, explica o ginecologista Dr. Eduardo Carvalho Pessoa, presidente da CNE em Imaginologia Mamária da Febrasgo e responsável pelos setores de oncoplastia mamária e de imagem do Centro de Avaliação em Mastologia da Faculdade de Medicina de Botucatu. “Por isso, quem precisa fazer mamografia é aquela mulher que não sente nada. É nessa mulher que a mamografia é capaz de detectar uma lesão que ainda não tem manifestação clínica na palpação e não apresenta nenhum outro sintoma”, afirma.
Já para quem possui um alto risco de desenvolver câncer de mama, as recomendações são outras. Por exemplo, mulheres com histórico familiar de primeiro e segundo grau com câncer de mama, especialmente em idade jovem, ou câncer de ovário antes dos 60 anos, apresentam risco maior de carregar uma mutação genética, o que aumenta o risco de câncer. Essas pacientes, especificamente, devem começar a rastrear o câncer de mama em idade mais precoce e associar na maioria das vezes a ressonância das mamas.
No caso de pessoas como a Beatriz, que têm menos de 40 anos, mas sentiu alguma alteração no autoexame das mamas, também é fundamental que procure o médico ginecologista, que deve solicitar a investigação diagnóstica do nódulo para que se possa fazer o tratamento mais precoce possível.
Esperança com o nascimento da primeira filha
Enquanto luta contra o câncer, Beatriz deu à luz sua filha primogênita, que nasceu no dia 03 de setembro, prematura, com 30 semanas, ficou algum tempo internada na Unidade de Tratamento Intensivo para ganhar peso, mas hoje já está em casa, com a família.
Agora, a nova mamãe divide seus dias entre os cuidados e a companhia com a pequena, enquanto espera finalizar o tratamento contra o câncer e, finalmente, poder fazer a retirada do nódulo por meio de cirurgia. “Agradeço a medicina estar avançada e eu ter a oportunidade de seguir me curando. Por isso, digo como é importante nos conhecermos e fazermos o autoexame. Ainda estou distante da tão sonhada ‘alta’, mas as batalhas estão sendo vencidas”, finalizou Beatriz.
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