Familiares e amigos podem desempenhar um papel importante de apoio e escuta à mulher vítima de violência sexual
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
Sofrer uma violência sexual nem sempre deixa marcas aparentes, mas certamente deixa marcas profundas. Lidar com o sofrimento e a realidade pós-crime sozinha é ainda mais difícil. Neste texto aqui conversamos com uma especialista da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) sobre o que uma mulher vítima de estupro pode fazer para preservar a saúde e buscar justiça. Mas é importante falarmos também sobre rede de apoio.
Caso você não seja a vítima, mas tenha conhecimento de um crime de estupro que afetou um familiar, uma amiga, uma vizinha ou uma conhecida, é possível realizar a denúncia em uma delegacia. Assim, além de agir corretamente, você contribui para a responsabilização adequada do agressor(a) e para que a justiça seja efetivamente alcançada.
A ginecologista e obstetra Dra. Zélia Maria Campos,membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Violência sexual e Interrupção Gestacional Prevista em Lei da Febrasgo, explica que familiares e amigos podem desempenhar um papel importante no processo de recuperação das vítimas, oferecendo apoio e informações sobre como buscar ajuda profissional, por exemplo.
É fundamental que a pessoa que sofreu a violência sexual seja atendida por um médico nas primeiras 72 horas após o estupro, a fim de fazer a profilaxia para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis. “Os serviços de saúde devem incentivá-la a manter o acompanhamento médico e psicológico e a seguir com os 28 dias de profilaxia do HIV. É importante ressaltar que a adesão a essa profilaxia é frequentemente baixa. Nessas circunstâncias, o sucesso pode ser positivamente influenciado pelo suporte de familiares e amigos”, declarou a Dra. Zélia.
A médica destaca que é importante que os familiares e amigos também busquem atendimento psicológico, a fim de oferecer o apoio adequado à vítima de estupro e que demonstrem disponibilidade em ajudar, mas sem fazer qualquer tipo de questionamento ou julgamento de valor sobre o ocorrido, afinal, a pessoa que passou por uma situação dessa natureza já enfrenta um sofrimento imenso sem que ninguém expresse suas opiniões.
Em resumo, as principais ações que familiares e amigos podem adotar incluem:
- Ouvir o relato da vítima sem julgamentos e perguntar o que você pode fazer para ajudá-la;
- Incentivar a vítima a procurar todos os tipos de ajuda: médica, legal, física e mental, mas sem obrigá-la;
- Validar os sentimentos da vítima, como raiva, tristeza, culpa e vergonha, reconhecendo essas reações como normais;
- Mostrar-se disponível, evitando questionamentos sobre o ocorrido;
- Oferecer apoio em relação ao que a vítima deseja fazer, seja denunciar o crime, buscar ajuda psicológica ou simplesmente precisar de tempo para processar a situação;
- Nos casos em que a pessoa que sofreu violência sexual foi atendida em serviços de saúde nas primeiras 72 horas após o ocorrido, é importante incentivá-la a manter o acompanhamento médico multidisciplinar e completar os 28 dias da profilaxia do HIV.
Referências
Côrtes, M.T.F; Catharini, T.M.A. et al. O Suporte Familiar à Vítima de Violência Sexual: um estudo clínico-quantitativo. XXIV Congresso de Iniciação Científica da Unicamp, 2016.