Por Letícia Martins e Priscila Horvat, jornalistas com foco em saúde
Diálogo em casa, com os pais e/ou responsáveis, pode abrir os olhos de crianças e adolescentes sobre o assunto
Muitas famílias ainda sentem desconforto ao falar sobre sexualidade com os filhos, mas essa é uma conversa essencial para proteger, orientar e desenvolver meninas e meninos, crianças e adolescentes, de forma saudável.
Quando se começa a falar sobre o assunto de forma natural e respeitosa desde cedo, os pais e/ou responsáveis também abrem espaço para o(a) filho(a) sentir confiança o suficiente para questionar – não só para tirar dúvidas comuns, mas para saber o que é ou não permitido. Ou seja, essa é uma oportunidade para ensinar e explicar os limites e o que já pode ser considerado um abuso.
Para a ginecologista Dra. Tatiana Serra da Cruz, membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) da Infância e Adolescência da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), essa educação deve começar desde os primeiros cuidados com o bebê e seguir em cada fase da vida da criança. “Sexualidade vai muito além de sexo. Ela abrange a afetividade, o conhecimento dos órgãos genitais, das diferenças entre os sexos, do respeito pelo próprio corpo e pelo corpo do outro, a diversidade sexual, fatores como a higiene e a autoproteção”, explica a médica.
Segundo ela, até mesmo momentos simples do dia a dia, como a troca de fraldas, já oferecem uma oportunidade de introduzir esse assunto, ao dizer, por exemplo: ‘Olha, vamos trocar a sua fraldinha, fazer a higiene, mas só a mamãe e algumas pessoas podem fazer isso’. No caso, a mãe deve especificar as pessoas que podem auxiliar a criança na sua higiene. “Isso tudo já é um início da orientação sobre sexualidade e vai normalizando esse tipo de conversa dentro de casa”, indica a Dra. Tatiana, que também é professora adjunta da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e representante da Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência no Mato Grosso do Sul (SOGIA-MS).
Situações seguras para o diálogo
A ginecologista reforça que o tema deve ser tratado com naturalidade, de forma acessível à idade da criança. “Devemos ir tirando suas dúvidas conforme elas forem surgindo, responder de forma clara, honesta, com uma linguagem acessível para a idade da criança ou do adolescente”, orienta.
Ela também destaca a importância de não antecipar informações, mas sim responder exatamente ao que foi perguntado, usando, inclusive, sempre os nomes corretos de cada parte do corpo. “É melhor termos conversas mais frequentes e mais curtas do que procurar passar todo um grande conhecimento de uma vez só, porque assim não vai dar tempo da criança ou adolescente processar tudo aquilo”, afirma. Para isso, é essencial criar momentos de conversa em família em que a criança sinta liberdade de expor suas dúvidas, sabendo que não estarão sendo julgados e que podem falar de forma segura.
Como exemplo dessas situações, a médica lista momentos em que aparece alguma cena na televisão ou algo visto na rua: são oportunidades valiosas para abordar o assunto sem tabu. “É melhor abordar a situação do que ninguém falar nada, os pais precisam ser proativos”.
Sabe aquele ditado que diz que “melhor aprender em casa, do que na rua”? Esse assunto é exatamente um exemplo de como ele é aplicado. Com o avanço da internet, das redes sociais e da inteligência artificial, é melhor os pais explicarem do que deixar a criança aprender por meio de terceiros.
“Precisamos ficar atentos à internet e orientar os filhos a como estar dentro da internet. Há momentos em que a família até está reunida, mas cada um está no seu celular, ninguém conversa. É preciso um momento para um ouvir o outro, saber o que está acontecendo com o filho, como está na escola, o que estão fazendo, com quem estão andando, quem são os amigos deles, onde eles estão dentro da rede social. Nós temos que orientar as crianças e os adolescentes em relação aos perigos que podem vir com a internet e as redes sociais. Em momentos de conversas entre a família, podemos criar oportunidades para abordar esse tema”, orienta.
Para muitos pais, esse diálogo nem sempre é fácil. Por isso, contar com a ajuda de profissionais, entre eles o médico ginecologista, é uma dica importante. Já pensou nisso?
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