Vacina contra o HPV é eficaz na prevenção do câncer de colo de útero

por Feito para Ela

Cerca de 80% dos adultos com vida sexual ativa já tiveram contato com alguma variante do vírus HPV.

Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde

HPV é a sigla em inglês para Papilomavírus humano, causador de uma infecção sexualmente transmissível (IST) que pode provocar verrugas genitais em mulheres e homens e em algumas pessoas pode progredir para vários tipos de câncer, entre eles o câncer de colo de útero.

Essa virose é considerada a infecção transmitida sexualmente (IST) de maior incidência no mundo, com cerca de 600 milhões de casos ao ano aproximadamente. O principal pico de infecção viral do HPV ocorre entre 18 e 25 anos de idade, mas estima-se que mais de 80% da população sexualmente ativa já entrou em contato com o vírus em algum momento de suas vidas.

Embora a maioria das pessoas não apresente sintomas e o corpo naturalmente se livra do vírus, é importante se prevenir contra o HPV, pois a permanência silenciosa dele no organismo é perigosa para a saúde. A ginecologista Dra. Cecília Maria Roteli Martins explica que a proteção mais eficaz é tomar a vacina contra o HPV e fazer exames regulares de prevenção no ginecologista. Também usar camisinhas femininas ou masculinas durante as relações sexuais garante proteção contra outras IST.

“Existem mais de 100 tipos de HPV. A vacina não protege contra todos eles, mas é eficaz contra a maioria dos vírus que causam cânceres de colo de útero, vulva, vagina, ânus e orofaringe”, esclarece a médica, que também é presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) em Vacinas da FEBRASGO.  

Por ser uma IST, o ideal é se imunizar antes da primeira relação sexual. Mas pessoas que já são sexualmente ativas e ainda não tomaram as doses da vacina devem fazer para evitar que, em caso de novas infecções, o quadro evolua para um câncer.

As vacinas são aplicadas em duas ou três doses, dependendo da idade da pessoa. A recomendação é vacinar meninas de 9 a 14 anos de idade. Para este público, a vacinação contra quatro tipos de HPV é gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS). Adultos portadores de HIV, transplantados e pessoas em tratamento oncológico também podem receber o imunizante pelo SUS.

Em março de 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a aplicação da vacina HPV9 na rede privada (confira abaixo mais informações sobre os tipos de vacinas contra o HPV).

Quais são os sintomas do HPV?

Felizmente, para a maioria das pessoas o HPV não manifesta sintomas e o próprio sistema imunológico expulsa o vírus antes de causar qualquer dano à saúde. Mas, em algumas situações, a infecção por HPV pode apresentar verrugas visíveis na região genital ou bucal. Pode ser uma única verruga ou várias juntas, sendo conhecidas popularmente como crista de galo. Algumas vezes não apresenta nenhuma lesão e é aí que mora o perigo pois as pessoas podem não perceber e desenvolver um câncer associado ao HPV.

Em caso de sintomas, o diagnóstico é clínico e a aparência das verrugas ou lesões indicam o tipo de HPV.

A infecção pode ser identificada no exame de Papanicolau, de rotina ou nos testes para HPV, por isso é recomendado que todas as mulheres façam esse exame preventivo pelo menos uma vez por ano a partir de 25 anos.

Quais são os tipos de vacina contra HPV?

No Brasil, foram licenciadas três vacinas contra o HPV, mas uma delas (a bivalente contra os tipos 16 e 18 do vírus) deixou de ser comercializada em2021. Assim, as duas vacinas disponíveis no país são:

Quadrivalente – V4:

  • Protege contra os 2 principais tipos de HPV causadores de câncer de colo uterino e os 2 tipos causadores de verrugas genitais.
  • Faz parte do calendário da rede pública pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) desde 2014;
  • Está disponível gratuitamente em todo o país para meninas e meninos de 9 a 14 anos, com duas doses em intervalo de 6 meses;
  • Também está disponível gratuitamente para mulheres e homens imunossuprimidos até 45 anos, com três doses em intervalo de 2 e 6 meses (0-2-6 meses).

Nonavalente – V9

  • Disponibilizada na rede privada em março de 2023, a vacina 9V protege contra os mesmos 4 subtipos de HPV contidos na vacina 4V (6-11-16-18) e outros 5 subtipos de HPV (31-33-45-52-58);
  • Podem tomar a vacina na rede privada mulheres e homens entre 9 e 45 anos com as doses administradas de acordo com a idade: 9 a 14 anos (duas doses com intervalo de seis meses); de 15 a 45 anos (três doses, com intervalo de dois e seis meses);
  • Para imunossuprimidos entre 9 e 45 anos, três doses com intervalo de dois e seis meses (0-2-6 meses).

As vacinas são seguras?

Dra. Cecília Roteli explica que as vacinas foram desenvolvidas com o objetivo de prevenção do câncer de colo de útero, por isso, a população alvo inicial eram as meninas. “Entretanto, as evidências foram mostrando uma importante eficácia na prevenção de outras doenças relacionadas ao vírus, inclusive na população masculina, que foi reconhecida não só como transmissora, mas também como vítimas de doenças HPV induzidas.  Assim, a vacina começou a ser incorporada nos programas de imunização para os meninos na mesma faixa etária das meninas”, conta a ginecologista.

Em todos os países que introduziram a vacinação com a 4V, com altas coberturas vacinais, houve queda da incidência de verrugas e câncer do trato anogenital, comprovando que a vacinação de meninas é a intervenção mais efetiva para a redução do risco de câncer de colo de útero.

A médica afirma que as vacinas contra o HPV passaram por diversos estudos e são seguras para a população indicada. Um desses estudos (Van Damme e colaboradores) foi realizado com 1.935 meninas e 669 meninos entre 9 e 15 anos, além de 470 mulheres entre 16 e 26 anos, randomizados (isto é, escolhidos aleatoriamente) para receber as três doses da V9.

Um mês após a última dose do esquema, os resultados mostraram que a vacina foi bem tolerada, com efeitos adversos leves. O acompanhamento de 8 anos do estudo comprovou a eficácia duradoura da vacina, tendo em vista que nenhum dos participantes do estudo apresentou algum tipo de câncer.

Quais são os efeitos colaterais da vacina?

Alguns efeitos colaterais podem ocorrer, como dor no local da aplicação, febre e dor de cabeça. “É importante lembrar que a vacinação contra o HPV é um investimento na saúde individual e coletiva, contribuindo para a prevenção de doenças graves e para a redução dos custos com tratamentos médicos”, destaca a ginecologista.

Referência

Recomendações FEBRASGO para a Vacina HPV9 Comissão Nacional Especializada em Vacinas da FEBRASGO

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