Autoconhecimento e orientação profissional são importantes nessa decisão e na vida da mulher moderna.
Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde
Muitas mulheres optam por adiar a gravidez ou decidem não ter filhos para priorizar outros aspectos da vida, como carreira e estudos. A queda na taxa de fertilidade no Brasil, assim como nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, e expressões como Geração NoMo (sigla em inglês para “Não Mães”), refletem bem essas duas tendências de mudanças nos padrões reprodutivos.
Decidir não gerar um filho é uma escolha legítima das mulheres, que deve ser respeitada sem julgamentos. “A escolha pela não maternidade é uma quebra de padrões que foram naturalizados pela sociedade. No entanto, também é uma questão natural a mulher decidir que não quer ter filhos seja qual for o motivo”, analisa a psicóloga Monique Marques Godoy-Dolcinotti, professora da Universidade de Taubaté (Unitau), que neste outro texto fala mais sobre a mudança do papel da mulher na sociedade.
Embora o perfil reprodutivo esteja mudando, é comum que algumas mulheres se deparem com arrependimento ou dúvidas em relação a essa decisão. Para evitar tais sentimentos, é importante buscar o autoconhecimento e as razões pelas quais resolveram adiar a maternidade ou mesmo não gerar um filho, afinal, a escolha de não ter filhos pode estar relacionada a outros fatores que não sejam profissionais, como o bem-estar emocional, a falta de desejo de maternar ou experiências dolorosas e pessoais.
Para a empreendedora da área da beleza, Mônica Cristina Peixoto de Lima Ceciliato, de 46 anos, o medo de engravidar surgiu depois que a mãe dela faleceu após o nascimento do irmão caçula, há cerca de 30 anos. Antes de se conhecerem, o marido de Mônica também havia enfrentado a perda de um filho natimorto, o que reforçou a decisão do casal em não gerar uma criança.
“Além do medo e da insegurança, a falta de apoio emocional para enfrentarmos as nossas perdas teve um papel importante na decisão de não ser mãe. Eu assumi a maternidade na criação do meu irmão, que me chama de mãe até hoje. Ninguém me pediu, eu simplesmente fiz. Não tinha ideia do prejuízo emocional que essa decisão me traria no futuro”, relata a empreendedora. “A família sempre nos cobrou filhos. Houve uma fase em que até pensei em engravidar, mas a situação financeira não era a mais favorável. Rapidamente desisti da ideia novamente.”
Apesar dos comentários alheios e da frustração de alguns familiares sobre a decisão de não ter filhos, Mônica afirma que não se arrepende. “Meu esposo e eu estamos juntos há 24 anos e casados há 17. Os sobrinhos sempre estão ao nosso redor e amamos essa troca com eles. Se um bebê viesse no meio do caminho, seria bem-vindo, amado e educado, mas não estava nos nossos planos nem nos nossos sonhos. Acima de tudo, Deus sabe o que faz. Acredito que a vida é justa e atende ao que esperamos dela”, acrescenta.
A empreendedora Mônica Ceciliato renunciou à maternidade após vivências dolorosas, mas não se arrepende. (foto: arquivo pessoal)
Orientação profissional para evitar arrependimentos
Muitas vezes, essa jornada rumo ao autoconhecimento se torna intransitável ou muito mais difícil sem a orientação de um ou mais profissionais. O psicólogo, por exemplo, pode ajudar mulheres que não desejam engravidar a evitar o arrependimento fornecendo suporte emocional e ferramentas para explorar seus sentimentos, crenças e valores em relação à maternidade.
Além disso, esse especialista pode auxiliar na elaboração de estratégias para lidar com pressões sociais, familiares e culturais relacionadas à gravidez e com possíveis conflitos emocionais ou dilemas éticos envolvidos na decisão de não ter filhos.
Outro profissional de saúde aliado da mulher nesta jornada é o médico ginecologista, que pode ajudar no planejamento familiar no caso daquelas que desejam adiar a maternidade. “A idade é um fator crucial para a fertilidade. A partir dos 35 anos, um terço das mulheres enfrenta problemas de infertilidade, número que aumenta ainda mais após os 40. Por isso, a recomendação é que essas mulheres considerem a possibilidade de congelar óvulos para, no futuro, tomar a decisão de ter ou não filhos”, orienta Dr. Rui Alberto Ferriani, médico ginecologista e coordenador da Comissão Nacional Especializada (CNE) em Reprodução Assistida da Febrasgo.
Ele também ressalta a importância de fazer uma boa análise e reflexão antes de escolher pelo método contraceptivo, tendo em vista a variedade de opções e novidades. No final de 2022, por exemplo, o Brasil alterou a lei sobre o acesso à laqueadura e à vasectomia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), reduzindo a idade mínima para realizar a cirurgia de 25 para 21 anos, e dispensando a obrigação de que o homem ou a mulher já tenha filhos antes de realizar o procedimento.
Mas o Dr. Rui alerta: “Consideramos a laqueadura um método definitivo. Por isso, é importante ponderar o número de filhos e a idade da mulher na decisão, não apenas a lei, pois 21 anos é jovem do ponto de vista médico. Existem outros métodos contraceptivos de longa duração que são seguros, eficazes e reversíveis”, esclarece o ginecologista. Saiba mais sobre os métodos contraceptivos aqui.
Portanto, contar com ajuda profissional é tão importante quanto refletir sobre seus desejos e propósitos de vida, para evitar sentimentos de arrependimento em relação às decisões tomadas.
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