Conheça as principais recomendações para o sexo seguro entre mulheres

por Feito para Ela

Mulheres homossexuais também correm risco de contrair infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) em relações desprotegidas. Por isso, segurança em primeiro lugar.

Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde

O movimento LGBTQIA+ luta pelos direitos e pela inclusão de pessoas de diversas orientações sexuais e identidades de gênero. Com o tempo, o movimento foi aumentando e a sigla também para que cada vez mais pessoas se sintam representadas e suas pautas sejam defendidas na sociedade. Assim, a sigla LGBTQIAP+ remete a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais e outro/as.

Tão importante quanto lutar pelos direitos e por mais espaço na sociedade, é cuidar da saúde. Assim, neste mês, o site FEITO PARA ELA esclarece algumas dúvidas comuns sobre sexo entre lésbicas (mulheres que se relacionam com mulheres) e traz recomendações importantes para manter uma saúde sexual saudável.

Um dos mitos mais comuns é achar que o sexo entre mulheres não apresenta risco para ISTs. Na relação sexual entre pessoas do mesmo sexo, assim como nas relações entre pessoas de sexo diferentes, há trocas de secreções, contato entre órgãos sexuais e, algumas vezes, pode haver contato com sangue mesmo que de forma imperceptível.

A médica ginecologista e obstetra do coletivo Casa e Cordão, de Fortaleza (CE), Dra. Luciana Maria de Oliveira Patrício Marques, formada pela Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, afirma que o risco de mulheres homossexuais contraírem ISTs podem ser semelhantes ao risco que heterossexuais têm. “Não há estatísticas para demonstrar objetivamente isso, apenas estudos pequenos. Também sabemos que existem diferentes variáveis que podem agregar riscos. Elas são chamadas de comportamentos de risco”, declarou.

Por isso, a ginecologista destaca a importância de se falar mais sobre a prática segura de sexo entre mulheres. A seguir, ela esclarece algumas dúvidas comuns e recomenda alguns cuidados indispensáveis para uma vida sexual saudável:

Mulheres lésbicas precisam fazer consultas com ginecologista regularmente?

Dra. Luciana: Sim! É importante que todas as pessoas com vulva (nome dado para a parte externa do aparelho genital feminino) e vagina, independentemente da orientação sexual, passem por consultas ginecológicas com regularidade, tanto para investigar a presença de ISTs e prevenir doenças como HPV, câncer de colo de útero e câncer de mama, quanto para detectar precocemente algum problema de saúde e tratá-lo corretamente.

Na consulta, o médico fará diversas perguntas para a paciente com o objetivo de orientá-la melhor. Por exemplo, se a pessoa já fez prática sexual envolvendo algum tipo de penetração, seja com pênis, dedo ou acessório, é recomendado o exame papanicolau, que detecta o vírus HPV. Antes de tudo, é preciso entender que a sexualidade é fluida, principalmente nas mulheres, ou seja, elas podem realizar sexo somente entre elas, mas podem já ter realizado com homens, mesmo sendo lésbicas. Então, é importante que o médico tenha essa informação para proceder melhor com o exame.

Quais cuidados se deve ter com os acessórios sexuais?

Dra. Luciana: As mulheres podem usar sozinhas ou compartilhar acessórios sexuais, como dildos e vibradores. Eles são feitos com material especial e laváveis. É fundamental fazer a higienização adequada desses acessórios para evitar a disseminação de fungos e bactérias ou até mesmo de ISTs, caso sejam compartilhados. O vibrador, por exemplo, deve ser protegido com preservativo de látex durante o ato sexual. Deve-se trocá-lo a cada uso e antes de compartilhá-lo com outra pessoa.

Quais são as práticas sexuais seguras para mulheres lésbicas?

Dra. Luciana: Depende da prática sexual. No caso do contato vulva-vulva, não existe no Brasil nenhum método de barreira acessível e eficaz. Nos Estados Unidos, é possível encontrar à venda uma calcinha de látex, em vários formatos e cores, extremamente flexível. Ela também serve para a prática oral-vulva e oral-ânus, mas, na inexistência dela no mercado brasileiro, as mulheres podem se proteger de duas formas, no caso de sexo oral, uma delas é usar o dental dam, uma folha de látex, comum em consultórios odontológicos, porém o preço e os pontos de venda não são tão acessíveis.

Outra alternativa seria cortar as duas pontas do preservativo masculino e depois abri-lo no sentido longitudinal para ter uma película que pode ser usada para proteger a boca e a vulva. No entanto, além de não ser nada prático para o sexo entre mulheres, o preservativo masculino contém lubrificante, que adormece a língua. Assim é preferível procurar no mercado preservativo de látex sem lubrificante.

Quais os cuidados no caso da prática sexual usando os dedos?

Dra. Luciana: Além de penetrar o dedo na vulva e/ou no ânus, casais homossexuais (assim como heterossexuais) podem praticar o fisting, que consiste em introduzir a mão e o antebraço na vagina ou no ânus da parceira. Nesses casos, é fundamental manter as unhas bem curtas e higienizar as mãos.

O ideal mesmo é usar luvas ou dedeiras, tanto para troca entre o local de penetração, vagina ou ânus, como para evitar qualquer contato com secreções ou sangue, principalmente se houver lesões na pele das mãos. Outra recomendação válida é lubrificar bastante a região íntima para diminuir o atrito e reduzir o risco de traumas ou fissuras que podem abrir portas para infecções.

Existe alguma forma de redobrar os cuidados?

Dra. Luciana: Sim, com a prevenção combinada. Além de usar barreiras protetoras como citei anteriormente, é importante realizar testagens (exames) regulares, estar com a carteira de vacinação em dia e fazer as consultas regulares com ginecologistas.

Ainda existe muitos tabus e mitos envolvendo a relação homoafetiva e homossexual. Que mensagem poderia deixar para as mulheres que amam outras mulheres?

Dra. Luciana: Não há nada de errado em se sentir atraída por alguém do mesmo sexo. A sociedade ainda tem preconceito e desinformação sobre o assunto, mas cada pessoa deve ser livre para viver sua sexualidade. O importante é colocar a saúde em primeiro lugar. Portanto, minha mensagem é: amem quem você deseja amar, mas cuide da sua saúde, previna-se contra as ISTs, pois elas existem e atrapalham muito a vida. Prevenção ainda é o melhor caminho.

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