Entenda a importância de realizar exames de rastreamento durante a gestação e adotar um estilo de vida saudável para garantir a saúde da mãe e do bebê.
Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde
A gestação é marcada por diversas mudanças no corpo da mulher. Algumas são perceptíveis e esperadas, como o aumento da barriga e das mamas. No entanto, há alterações que nem sempre são percebidas e podem causar o surgimento de doenças, como o diabetes gestacional.
Como o próprio nome sugere, o diabetes gestacional ocorre durante a gravidez e é caracterizado pelo aumento da glicose (açúcar) no sangue, quadro chamado de hiperglicemia. Ao longo da gestação, o metabolismo da mulher muda naturalmente e intensifica a produção de hormônios, sobretudo os de origem placentária, que aumentam a resistência da insulina.
“Por essa razão, durante a gravidez, a insulina tem uma dificuldade maior de atuar nos tecidos periféricos e fazer a glicose entrar nas células. Associado a isso, a mulher ganha peso, o que também contribui para a resistência insulínica”, explica a ginecologista obstetra Dra. Elaine Moisés, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) em Hiperglicemia e Gestação da FEBRASGO e professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP-USP).
Para controlar a glicemia (nível de glicose no sangue), o pâncreas libera mais insulina. A maioria das mulheres consegue normalizar a glicose no sangue com essa dose extra de insulina produzida pelo organismo, enquanto outras gestantes vão precisar de alguns cuidados adicionais para manter o controle glicêmico. “A glicose elevada durante a gestação pode trazer diversas complicações tanto para a saúde da gestante, quanto para o bebê”, afirma a Dra. Elaine.
Entre as diversas consequências do diabetes gestacional está o crescimento excessivo do feto, podendo ocasionar a macrossomia fetal, isto é, o bebê nasce pesando mais de 4 kg, o que pode causar traumatismo no parto. Também está associado à ocorrência de hipoglicemia e icterícia no recém-nascido. Além disso, tanto a mulher que desenvolve diabetes gestacional quanto o filho que foi exposto ao ambiente hiperglicêmico têm risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2 e obesidade no futuro.
Como é feito o diagnóstico de diabetes gestacional?
Na maioria das vezes o diabetes gestacional é assintomático. Algumas mulheres apresentam sintomas como aumento da vontade de urinar, cansaço intenso e candidíase vaginal. “Por isso é importante que todas as gestantes sem diagnóstico prévio de diabetes façam o exame para rastrear o diabetes gestacional logo na primeira consulta de pré-natal, ressalta a endocrinologista Dra. Lenita Zajdenverg, professora da faculdade de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenadora da unidade de tratamento de doenças metabólicas da gestação da maternidade escola da UFRJ e membro do Comitê Central da Diretriz e do Dep. de Gestação da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
O exame de sangue para medir a glicemia deve ser feito em jejum. “O nível de glicose em jejum maior ou igual a 92 mg/dL em qualquer momento da gestação é considerado alterado. O diagnóstico de diabetes gestacional é estabelecido se a glicose de jejum for maior ou igual a 92 mg/dL e menor ou igual a 125 mg/dL. Por sua vez, se a glicose de jejum for maior ou igual a 126 mg/dL, temos o diagnóstico de diabetes mellitus. Em ambos os casos, essa paciente deve iniciar o tratamento gestacional adequado para o controle glicêmico”, afirma Dra. Lenita.
Se o resultado ficar abaixo de 92 mg/dL, a glicemia é considerada normal, mas a gestante deverá ser rastreada novamente na 24ª semana de idade gestacional (sexto mês de gravidez). Neste caso, recomenda-se fazer o teste oral de tolerância à glicose (TOTG), no qual a gestante coleta novamente a glicemia de jejum, depois ingere um líquido contendo 75 g de açúcar e mede a glicemia duas vezes, sendo 1 hora e 2 horas após a ingestão.
Toda gestante que não tem diagnóstico prévio de diabetes deve rastrear o diabetes gestacional.
Quais são os fatores de risco para o diabetes gestacional?
Qualquer mulher pode evoluir para um quadro de diabetes gestacional, mas algumas correm mais risco do que outras. Os principais fatores de risco para o diabetes gestacional são:
- Idade materna avançada,
- Sobrepeso e obesidade,
- Sedentarismo,
- História familiar de diabetes tipo 2,
- Histórico de diabetes gestacional em gravidez anterior,
- Diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos (SOP),
- Hipertensão crônica, entre outros.
Como é o tratamento do diabetes gestacional?
O tratamento do diabetes gestacional é baseado em:
- Adoção de uma alimentação saudável e calculada individualmente para as necessidades de cada mulher (lembre-se da máxima: descasque mais e desembale menos),
- prática regular de atividade física leve, se não houver contraindicação do obstetra,
- controle da taxa de açúcar no sangue, fazendo as medições de glicemia com frequência,
- adequação do ganho de peso durante a gravidez.
O tratamento do diabetes gestacional envolve insulina?
Para as pacientes que não conseguem controlar a taxa de glicose no sangue apesar da terapia nutricional e da atividade física, o médico pode prescrever insulina.
A recomendação que vale para todas é fazer o acompanhamento médico durante a gestação. “O cuidado da gestante com diabetes deve ser multidisciplinar, visando à busca do controle glicêmico dentro da faixa adequada para minimizar os riscos para a saúde da mãe e do bebê, tanto em curto como em longo prazos. Por isso, a gestante com diabetes precisa de uma frequência maior de consultas de pré-natal do que a paciente considerada de risco habitual, a fim de fazer o monitoramento glicêmico, ajustar o tratamento sempre que necessário e avaliar as repercussões maternas e fetais”, completa a Dra. Elaine.
Monitorar a glicemia faz parte do tratamento do diabetes gestacional.
De acordo com a Dra. Lenita, na grande maioria dos casos sim. Mas é fundamental que todas as mulheres que desenvolveram diabetes gestacional sejam acompanhadas no pós-parto e ao longo da vida. “Entre seis e oito semanas após o parto, é importante avaliar se essa mulher está com a glicose alta, e mesmo se a glicemia estiver normal, o acompanhamento deve continuar”, recomenda a endocrinologista da SBD.
A mulher que teve diabetes gestacional precisa ser examinada a cada um e dois anos durante toda a sua vida, porque ela tem risco maior de desenvolver diabetes tipo 2 a qualquer momento, principalmente se for sedentária e acumular peso corporal.
É possível prevenir o diabetes gestacional?
Como alguns dos fatores de risco são modificáveis, o ideal é investir em um estilo de vida mais saudável antes de engravidar, evitar o excesso de peso, praticar atividade física regularmente e optar por uma alimentação natural, sem produtos processados e ultraprocessados.
Anote isso: planejar a gravidez é fundamental para ajudar a prevenir não só o diabetes gestacional quanto outros problemas de saúde.
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