Exames e consultas regulares, prática de atividade física e saúde mental são alguns temas que merecem atenção de toda gestante.
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
Quando o resultado do teste de gravidez dá positivo, um misto de alegria e preocupação toma conta da mulher. Isso porque, com a notícia, provavelmente virá um combo de experiências novas nem sempre agradáveis, como enjoos, muito cansaço e sonolência, quilos extras, inchaço nas pernas e pés, inúmeras dúvidas se está fazendo a coisa certa, entre outras.
Sentir-se ansiosa e até perdida no início da gestação é natural. Por essa e outras razões é que as gestantes precisam comparecer às consultas de pré-natal para uma avaliação médica integral tanto da própria saúde quanto para acompanhar o desenvolvimento do feto. Nessas ocasiões, também é possível tirar várias dúvidas sobre a gestação.
Até completar 30 semanas de gestação, o intervalo entre as consultas pode ser mensal. Após esse período, o ideal é que a gestante vá ao médico a cada quinze dias. A partir da 36ª semana, a visita ao médico precisa ser semanal, uma vez que a mulher estará na reta final de preparação para o parto.
“Essa é a regra geral, mas depende muito do que a gestante está sentindo. Esse calendário pode mudar se houver queixas, alterações de exames ou possíveis diagnósticos, gravidez gemelar, entre outros fatores”, explica a obstetra Dra. Dra. Débora Farias Batista Leite, membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Além das consultas de pré-natal, o médico irá solicitar vários exames para avaliar o desenvolvimento e a saúde do feto. Confira.
Exames solicitados
De forma geral, existem alguns exames considerados de rotina e que toda gestante precisa realizar, como:
- Hemograma completo
- Glicemia de jejum
- Exames de urina
- Classificação sanguínea
- Sorologias para rastreio de HIV, hepatite, sífilis etc.
“Outros exames são solicitados a depender da situação de saúde dessa gestante. Por exemplo, se a paciente tem pressão alta (hipertensão), lúpus ou alteração renal, ela vai precisar fazer exames que colhem a urina por 12 ou por 24 horas, a chamada dosagem de proteinúria de 24 horas”, esclarece a Dra. Débora.
Alimentação saudável e equilibrada
A alimentação saudável e equilibrada é essencial durante a gestação, e é um mito ultrapassado achar que a mulher grávida deve “comer por dois”. Esse pensamento pode levar ao ganho excessivo de peso e a complicações para a saúde da mãe e do bebê. Na matéria “Comer por dois? O que realmente importa na alimentação da gestante”, explicamos a importância de um plano alimentar balanceado, rico em nutrientes, sem cair na armadilha do consumo exagerado
Importância da atividade física
Durante muitos anos, a prática de atividades físicas foi desencorajada para grávidas, devido ao receio dos potenciais efeitos negativos na região abdominal. Contudo, a ciência já comprovou os múltiplos benefícios do exercício para as gestantes.
“A literatura científica apresenta diversos estudos que mostram que a atividade física contribui para o controle adequado do peso e da pressão arterial durante a gestação, além de favorecer a liberação de hormônios que promovem bem-estar na mulher e futura mãe”, explica a obstetra Dra. Débora. “Para as gestantes com diabetes, por exemplo, os exercícios são essenciais para o controle dos níveis de glicose. Para aquelas que sofrem com inchaço nas pernas, as atividades ajudam na redistribuição dos líquidos corporais. Esses são apenas alguns dos muitos benefícios que a prática de exercícios físicos pode proporcionar durante a gravidez”, complementa a especialista.
Entretanto, a Dra. Débora destaca que algumas mulheres podem sentir uma diminuição na disposição para se exercitar durante a gravidez, o que pode ser atribuído a fatores como enjoos ou ao crescimento da barriga. Ela ressalta que, com exceção de casos específicos — como risco de parto prematuro ou episódios de sangramento, em que o repouso é recomendado —, a atividade física continua a ser fundamental para a saúde da gestante. A orientação de um profissional de educação física é importante para a segurança da grávida durante os treinos.
Atenção redobrada com a saúde mental
A gravidez é um período que traz profundas transformações, especialmente para as mamães de primeira viagem. Além das mudanças físicas, a saúde mental merece atenção especial, pois sinaliza a necessidade de cuidado com possíveis sinais de depressão ou alterações emocionais.
“A saúde mental é um tema que deve ser abordado durante os atendimentos pré-natais. As mudanças hormonais ocorrem rapidamente e, ao mesmo tempo, a mulher enfrenta outros desafios, como reorganizar a casa e o tempo. Isso exige um suporte psicológico significativo”, ressalta a Dra. Débora Leite.
Por isso, é importante que a gestante tenha uma rede de apoio, com pessoas de confiança, como o parceiro, pais, amigos ou até filho mais velho. “Além de oferecer ajuda nos cuidados diários, essas pessoas também poderão ser suporte para que a mulher se sinta segura ao longo da gravidez. No mundo ideal, é recomendado que ela também possa fazer um acompanhamento psicoterapêutico preventivo”, salienta a obstetra.
Vale destacar que, em diversos casos, os sinais de depressão pós-parto começam a se manifestar já durante a gestação. Mulheres que têm histórico de transtornos emocionais, como depressão e ansiedade, devem ficar atentas a mudanças de humor. “Muitas vezes, essas mulheres sentem-se incapazes de lidar com as demandas da gestação, enfrentam dificuldades para realizar exames, faltam às consultas e têm sono prejudicado. Elas podem até antecipar complicações, às vezes irreais”, alerta a profissional.
Identificar essas situações no pré-natal fará toda a diferença na vida dessa mulher. A médica menciona duas abordagens para o tratamento: Uma delas é o encaminhamento para um psicólogo, que pode dar o suporte emocional especializado durante a gravidez. A outra são testes de triagem que podem ser aplicados durante as consultas. Se o resultado for positivo, a paciente deve ser encaminhada para o psiquiatra, a fim de avaliar a presença de depressão”, conclui.
Esse é um momento especial, aguardado por muitas famílias, e a rede de apoio deve ficar atenta às mudanças que a gestante pode apresentar. É fundamental que ela se sinta à vontade para compartilhar sintomas durante as consultas. Afinal, para garantir uma gestação saudável, tanto o corpo quanto a mente da mamãe precisam estar em harmonia, preparados para o turbilhão de emoções que a chegada de um novo membro da família traz.