Saiba quais alimentos são indispensáveis para garantir uma nutrição equilibrada para a mãe e o bebê e quais mitos ainda cercam a alimentação na gravidez.
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
Quando uma mulher conta para a família e as amigas que está grávida, ouve uma avalanche de informações: das tradicionais felicitações às perguntas sobre sexo e nome do bebê. Além disso, a nova gestante recebe um combo de conselhos, que, em grande parte das vezes, possuem boas intenções, mas não têm fundamentação médica, como as famosas recomendações de coisas que podem ou não ser feitas, e, principalmente, o que deve ou não fazer parte da alimentação.
A obstetra Dra. Adriana Gomes Luz, secretária da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que um dos principais mitos relacionados à alimentação durante a gravidez é que a gestante precisa comer por dois.
“Durante a gestação, ocorre uma mudança corporal e é esperado que a maioria das mulheres ganhe peso, mas isso não significa que ela tenha que comer por dois. A alimentação precisa ser saudável e equilibrada e comer em excesso ultrapassa o limite do saudável”, declara a médica, que também é professora de obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp).
Para saber se a mamãe pode engordar (e também quantos quilos extras estão liberados), o médico do pré-natal avalia o índice de massa corporal (IMC) da mulher antes da gravidez. “É a partir desse parâmetro que será possível definir quanto essa gestante poderá ganhar de peso. No geral, varia entre 10 e 14 kg em casos de pessoas com IMC normal, mas é bom destacar que isso depende muito do perfil corporal”, afirma a Dra. Adriana.
Ela ressalta que o ganho de peso da gestante não está relacionado à nutrição adequada do bebê. “Às vezes, a família fica falando que a gestante está muito magra e que precisa engordar mais. Ainda existe o mito que a que a grávida saudável é a grávida gorda, mas se o crescimento do bebê está adequado e se não houver complicação nenhuma durante a gestação, o peso não é um fator que deve gerar preocupação”, esclarece.
Segundo a obstetra, outra crença equivocada que muitas pessoas mantêm, principalmente as mais velhas, é que a gestante com anemia deve comer fígado de boi. De fato, esse alimento é rico em ferro, mas ele por si só não resolve a anemia, uma condição de saúde que pode ter várias causas e, portanto, tratamentos diferentes para cada uma delas. “A maioria das gestantes não consegue nem sentir o cheiro de fígado de boi. Recomendar esse alimento para ela não vai ajudar. Há outras opções que podemos oferecer, mas antes disso é necessário identificar a causa da anemia”, explica.

Alimentos essenciais
A dieta da gestante precisa seguir algumas orientações, como aconselha a médica:
- Proteínas: são essenciais para o crescimento do bebê e podem ser encontradas em carnes magras, ovos e leguminosas;
- Fibras: ajudam a melhorar a movimentação intestinal, que é muito importante nessa fase, quando o intestino sofre uma ação hormonal que deixa o órgão mais lento;
- Gorduras saudáveis: são importantes para o desenvolvimento cerebral do feto. Abacate, azeite de oliva e algumas oleaginosas, como castanha, são exemplos de alimentos ricos em gorduras saudáveis;
- Cálcio: leite e derivados, como queijo e iogurte, são ótimas fontes desse mineral importante para a formação e a saúde óssea do bebê. É possível encontrá-lo ainda em alguns vegetais verde-escuros, como agrião, brócolis, couve, espinafre e quiabo;
- Peixe: são fundamentais por causa do ômega presente em sua composição, mas é preciso ter muito cuidado com os peixes que têm mercúrio, como atum e cação. Também é importante evitar a ingestão de peixe cru.
Ácido fólico
A médica destaca a importância do ácido fólico durante a gestação, que pode ser ingerido também na forma de metilfolato. Essa vitamina desempenha um papel fundamental na reposição de ferro, auxiliando na prevenção da anemia. Por isso, em alguns casos, o ginecologista obstetra recomenda a suplementação de ferro e maior ingestão de alimentos ricos em ferro, como carne, feijão e espinafre, além da vitamina D, que também auxilia na absorção do cálcio.
É importante destacar que a deficiência de ácido fólico pode estar associada a defeitos do tubo neural, anemia megaloblástica, aborto, prematuridade e pré-eclâmpsia, tornando sua adequada ingestão essencial para a saúde materno-fetal.