Uma a cada dez brasileiras sofre com essa doença evolutiva, que pode aumentar de intensidade aos poucos.
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
A endometriose é uma doença inflamatória causada pelo crescimento do endométrio fora do útero. O endométrio é a camada que reveste a parede uterina e é renovada mensalmente. Durante o ciclo menstrual, ela descama de forma natural e é eliminada, dando lugar à uma nova.
O problema acontece quando essa antiga camada continua no corpo e começa a atingir outras partes da pelve, como trompas, ovários, bexiga e intestino. A endometriose, portanto, pode ser caracterizada como uma doença crônica. Até o momento, não há cura descoberta, apenas tratamentos. Para piorar a situação, ainda não se sabe a origem correta da doença que, mesmo benigna, é crônica e pode ser causada por uma série de fatores, como imunológicos, genéticos, de crescimento e alterações de enzimas.
A gravidade é tamanha que, em maio de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a doença como um problema de saúde pública. De acordo com a entidade, a condição afeta 10% da população feminina global em idade reprodutiva. No Brasil, os números também são alarmantes: uma em cada 10 mulheres sofre com a doença, segundo dados da Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE).
“São 176 milhões de mulheres sofrendo com essa doença em todo o mundo e 7 milhões delas estão no Brasil, de acordo com a estimativa do Ministério da Saúde. Sentir dor não é normal. Não se pode relativizar ou normalizar a dor, é preciso buscar ajuda para entender o que está acontecendo”, afirma o ginecologista e obstetra Dr. Ricardo de Almeida Quintairos, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Endometriose da FEBRASGO.
Uma das principais queixas desse problema ginecológico é a intensidade da dor, que pode até interferir na produtividade, prejudicando a vida acadêmica, profissional e afetiva. “Esse tipo de dor pode incapacitar a mulher até em atividades rotineiras. Nenhum remédio resolve. A dor passa momentaneamente, depois volta aos poucos e, por fim, parece que o medicamento nem teve efeito”, explica Dr. Ricardo. “A dor é um sintoma que grita aos nossos olhos e ouvidos. Precisamos olhar para quem está com dor com uma forma diferenciada e atenta”.
Sintomas e diagnóstico da endometriose
- Alterações urinárias e intestinais
- Cólica intensa durante o ciclo menstrual
- Desconforto na evacuação
- Diarreia
- Dificuldade para engravidar
- Dor abdominal
- Dor durante a relação sexual
- Dor lombar
- Dor pélvica
- Enxaqueca
- Fadiga (cansaço intenso)
- Inchaço abdominal
- Infertilidade
- Menstruação irregular
- Náuseas
- Síndrome da bexiga dolorosa
- Vômitos.
Segundo o ginecologista, os desconfortos podem variar de intensidade de mulher para mulher, e serem confundidos com os incômodos do período menstrual. Esses motivos são os responsáveis pelo diagnóstico tardio. Muitas mulheres, inclusive, consideram os sintomas como ‘normais’ do ciclo, e só acreditam que exista alguma coisa errada quando surge a dificuldade para engravidar. Quando não tratada, a endometriose pode levar ao quadro de infertilidade. Para chegar ao diagnóstico, o profissional irá solicitar exames de imagem para identificar o problema.
Tratamento da endometriose
Como a doença ainda não tem cura, o tratamento envolve o uso de medicamentos ou até cirurgia. Alterações no estilo de vida da mulher, com exercícios de baixo ou médio impacto podem trazer benefícios, como a manutenção e diminuição da dor.
O profissional ainda afirma que a população feminina precisa entender que a endometriose é uma doença evolutiva, que aumenta de intensidade aos poucos, e fica mais evidente a cada ciclo, e ainda faz um alerta: “As mães precisam ter um olhar atento nos sintomas que da filha, principalmente a cólica menstrual. Esse alerta também deve chegar até as escolas. As professoras de meninas que não vão para a aula porque estão com muita cólica devem chamar os pais e alertá-los sobre a endometriose”, finaliza Dr. Ricardo. Nesses casos, a menina precisa ser avaliada por um médico ginecologista.