O congelamento de óvulos permite que a mulher escolha viver a maternidade em uma idade mais madura
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde.
No século passado, as famílias se formavam mais cedo e tinham basicamente a mesma configuração: o homem era o responsável por prover o lar, enquanto a mulher cuidava da casa e dos filhos. Mas as coisas começaram a mudar e a elas deixaram de se dedicar exclusivamente às atividades domésticas e começaram a trabalhar fora. Hoje, há mulheres desempenhando desde a nobre missão de dona de casa quanto a de chefe-executiva em uma grande empresa.
Porém, o ciclo reprodutivo feminino continua o mesmo e após a menopausa, que ocorre geralmente entre os 48 e os 52 anos, a mulher não pode mais engravidar naturalmente. Por isso, muitas mulheres lidam com o desafio de conciliar carreira e maternidade. Algumas optam por interromper a vida profissional para ter filhos, por exemplo, enquanto outras adiam o sonho da maternidade.
Além do lado profissional, ainda existem outros fatores que influenciam na decisão de ter ou não – ou quando – um filho, como uma doença inesperada ou genética, a necessidade de cuidar de algum familiar doente, a espera para ter maior segurança financeira, espera até aparecer o companheiro certo, ou até espera para ter certeza se a maternidade realmente é uma boa escolha.
Independentemente do motivo, está cada vez mais comum a opção de postergar a maternidade. Mas, para que isso seja feito de forma correta e que garanta maiores chances de sucesso lá na frente ao tentar ter filhos biológicos, é preciso investir na preservação da fertilidade.
“O congelamento de óvulos, também conhecido como criopreservação de óvulos, é um procedimento que permite que os óvulos de uma mulher sejam coletados, congelados e armazenados para uso futuro”, explica a Dra. Marta Finotti, especialista em ginecologia e reprodução humana, membro Comissão Nacional Especializada (CNE) de Reprodução Humana da Febrasgo e professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG). De acordo com dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o número de óvulos congelados aumentou em quase 96,5% no Brasil entre 2020 e 2023, especialmente entre as mulheres com menos de 35 anos, refletindo um fenômeno global. “O congelamento de óvulos oferece a oportunidade de preservar a fertilidade para uma idade mais avançada, permitindo que as mulheres se sintam mais seguras ao postergar a gravidez”.
Etapas do congelamento de óvulos
A médica explica que o processo de congelamento de óvulos consiste em sete etapas distintas:
1) Estimulação ovariana por meio de hormônios;
2) Monitoramento por ultrassom e exames de sangue;
3) Maturação dos óvulos;
4) Coleta dos óvulos: realizada com anestesia e no centro cirúrgico;
5) Preparação para o congelamento;
6) Criopreservação: quando os óvulos são colocados em uma temperatura muito baixa e armazenados em um ambiente adequado; e
7) Armazenamento: etapa sem data limite, que permite que a mulher decida usá-los para tentativas futuras de fertilização ou até que opte por descartá-los.
“O congelamento de óvulos é um procedimento seguro e eficaz, mas exige cuidados especializados e deve ser realizado em clínicas de fertilização assistida por profissionais treinados”, explica Dra. Marta Finotti, que também é coordenadora do Feito Para Ela e do Núcleo Feminino da Febrasgo.
Para quem pretende congelar os óvulos por garantia e decidir só mais no futuro o que fazer, é preciso se atentar ao relógio biológico, isso porque “o congelamento de óvulos deve ser realizado de maneira ideal entre 30 e 34 anos, podendo estender este limite até 40 anos dependendo da avaliação individual da paciente e das recomendações médicas”, explica a doutora.
“É importante discutir com um especialista em reprodução assistida, para determinar o melhor momento e a viabilidade do congelamento de óvulos, com base na reserva ovariana e nas condições de saúde de cada mulher. A decisão é individualizada”, relata. “Planejar o futuro reprodutivo é necessário”, finaliza.
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