Anemia: entenda quando a falta de ferro se torna um risco para mamãe e bebê

por Feito para Ela

Condição afeta cerca de 40% das gestantes e pode aumentar o risco de parto prematuro. O diagnóstico e o tratamento adequados são fundamentais para a saúde da mãe e do bebê.

Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde.

Considerada um dos maiores problemas de saúde no mundo inteiro, a anemia é uma condição comum que atinge mais de 2 bilhões de pessoas independentemente de classe social. Ela ocorre devido à redução na quantidade de hemoglobina no sangue, proteína localizada no interior das hemácias (glóbulos vermelhos) e responsável pelo transporte de oxigênio para os órgãos e tecidos do corpo. Em gestantes, ela requer atenção especial e a realização de investigações diagnósticas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 30% das mulheres em idade reprodutiva e até 40% das gestantes apresentam anemia, que pode acarretar sintomas como cansaço excessivo, falta de ar e tontura, comprometendo o bem-estar da gestante. Além disso, a falta de ferro pode aumentar o risco de parto prematuro e baixo peso do bebê ao nascer.

A ginecologista obstetra Dra. Maria Laura Costa do Nascimento, membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) em Hipertensão na Gestação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que a anemia pode se apresentar de forma isolada, como em situações de deficiência de ferro ou sangramentos, mas também pode estar associada a alterações nos glóbulos brancos e plaquetas, o que indica causas mais complexas e que afetam a produção de células sanguíneas.

“Durante a gravidez, a anemia é diagnosticada quando os níveis de hemoglobina estão abaixo de 11 g/dL [gramas por decilitro]. A maior predisposição das gestantes deve-se ao aumento das demandas fisiológicas, à hemodiluição [aumento no volume de plasma em relação aos glóbulos vermelhos] e à perda de sangue no parto, além das causas comuns de anemia presentes em outras fases da vida”, declara a médica, que também é diretora científica da Rede Brasileira de Estudos em Hipertensão na Gravidez (REHG), representante brasileira na Sociedade Internacional de Hipertensão na Gestação e coordenadora do programa de Pós-graduação em Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp).

Causas da anemia na gestação1

  • Fisiológicas: condição de desequilíbrio que afeta o funcionamento normal do organismo.
  • Adquiridas:
  • Anemia por deficiência de ferro
  • Anemia megaloblástica (deficiência de B12 ou folato)
  • Anemia da doença crônica/inflamação
  • Anemia hemolítica autoimune
  • Anemias hemolíticas microangiopáticas
  • Aplasia de medula óssea
  • Doenças hematológicas clonais, como leucemias e outras neoplasias
  • Anemia por sangramento agudo e coagulação intravascular disseminada.
  • Congênitas:
  • Doença falciforme
  • Talassemias
  • Outras anemias hemolíticas hereditárias.

Sintomas e consequências

Durante a gestação, a anemia pode trazer sérios riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Os sintomas mais comuns incluem:

  • Fraqueza
  • Mal-estar
  • Pele pálida
  • Aumento da frequência cardíaca (taquicardia) frequente
  • Dificuldades respiratórias (dispneia)

Dra. Maria Laura destaca que, além dos sintomas inespecíficos citados acima e depender da sua gravidade, a anemia também pode associar-se a desfechos adversos, como:

  • Parto prematuro
  • Maior prevalência de pré-eclâmpsia
  • Baixo peso do bebê ao nascer
  • Mortalidade neonatal
  • Comprometimentos no desenvolvimento da criança
  • Risco aumentado de infecções pós-parto
  • Risco aumentado de desfecho adverso materno e perinatal.

De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde, a anemia é classificada conforme os níveis de hemoglobina:

  • Anemia leve: entre 9 e 11 g/dL
  • Anemia moderada: entre 7 e 9 g/dL
  • Anemia grave: abaixo de 7 g/dL

“Quando a anemia se apresenta em níveis moderados ou graves por períodos prolongados, há riscos adicionais que podem comprometer o crescimento e a vitalidade do feto, demandando um monitoramento médico mais frequente”, afirma a médica, que completa: “O diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais para garantir uma gestação saudável e reduzir complicações para mãe e bebê”.

Diagnóstico da anemia na gravidez e o teste do pezinho

Dada à alta prevalência de anemia ferropriva (deficiência por ferro), é comum que gestantes recebam tratamento com sulfato ferroso sem uma avaliação adequada do seu estado de saúde. Mas a Dra. Maria Laura reforça a importância de realizar um hemograma no início da gestação e no 3º trimestre e a depender dos achados, buscar identificar o tipo da anemia e quais as deficiências específicas dentro da condição, para adequada intervenção e seguimento.

Uma boa notícia é que, desde 2001, quando foi implementado o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), popularmente conhecido como teste do pezinho, estão cada vez mais raros os casos de hemoglobinopatia (como as doenças falciformes) sem diagnóstico. As mulheres que já sabem do diagnóstico de anemia congênita, devem programar sua gestação, com acompanhamento em pré-natal de alto risco.

Outros aspectos relevantes a serem considerados na investigação diagnóstica incluem a anamnese, onde devem ser averiguadas questões como a dieta da gestante e o histórico de cirurgias que possam afetar a absorção de nutrientes, como no caso de gestantes que passaram por cirurgia bariátrica.

Tratamento

O tratamento depende da causa da anemia. Quando anemia é grave, pode haver repercussão fetal. Nesses casos, podem ser necessárias intervenções como terapia transfusional e antecipação do parto. “A avaliação fetal é realizada por ultrassonografia, com monitoramento do crescimento e do fluxo sanguíneo feto-placentário; além de avaliação clínica materna cuidadosa”, expõe Dra. Maria Laura.

Para a prevenção de anemia ferropriva, etiologia mais prevalente na gestação, recomenda-se profilaxia com 30-60mg de ferro elementar (correspondente a 150 a 300 mg de sulfato ferroso ao dia). Tem-se discutido na literatura o uso intermitente, com mesma efetividade e redução dos efeitos adversos.

Planejamento da gravidez

Outra dica profissional é para as mulheres que estão na fase de planejamento de gestação, mas já tiveram anemia. Nesses casos, “o ideal é sempre programar a gestação e engravidar com o melhor controle clínico das comorbidades, idealmente com hábitos saudáveis, incluindo atividade física regular e dieta adequada”, recomenda a obstetra.

No cardápio, é importante incluir alguns alimentos ricos em ferro. A Dra. Maria Laura cita alguns:

  • Carnes: especialmente bovina, suína e sardinha;
  • Pães e massas integrais;
  • Frutas: damasco e figo secos e suco de ameixa;
  • Verduras e legumes: espinafre, abóbora, aspargos, couve-de-bruxelas, cogumelos, batata-doce, molho de tomate, beterraba, folhas verdes (como couve), nabo, beterraba e acelga;
  • Leguminosas: soja, feijão, grão-de-bico e ervilhas verdes;
  • Sementes: gergelim, girassol, pistaches, castanhas de caju e nozes.

Embora a anemia seja uma doença grave e que pode ter diversas consequências, é possível reverter esse quadro com um acompanhamento adequado e alimentação equilibrada, proporcionando uma gestação mais tranquila e saúde para mãe e bebê.

Referências

1 Obstetrícia – Perinatologia Moderna: visão integrativa e sistêmica – volume 1, 20221

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