Saúde da mãe e do bebê, histórico obstétrico e infraestrutura disponível são alguns dos fatores que influenciam na escolha do parto mais seguro.
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
Uma gravidez começa bem antes de ver o resultado positivo. Começa no desejo, no planejamento e nas tentativas. Quando finalmente a gestação é confirmada, são muitas as preocupações que rondam a cabeça da nova mamãe, como a decoração do quarto, a cor do enxoval, o nome do bebê, chá de fraldas, ensaio fotográfico da gravidez, entre outras questões. Mas se há algo de extrema importância que precisa estar no topo dessa lista é o tipo de parto que a mãe deseja ter.
Existem quatro tipos de partos, sendo que cada um deles tem suas vantagens e desafios. “A escolha do tipo de parto deve levar em conta a saúde da mãe e do bebê, as preferências da gestante e a recomendação médica. Conhecer as opções disponíveis ajuda a tomar uma decisão mais consciente e tranquila”, afirma a obstetra Dra. Eura Martins Lage, membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) em Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e professora associada do Depatamento de Ginecologia e Obstetricia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A médica acrescenta que, para fazer uma boa escolha, é preciso considerar o histórico obstétrico da gestante, isto é, se ela já teve cesárea ou partos normais anteriores, e qual a infraestrutura estará disponível durante o parto.
Todas essas informações devem ser levadas em consideração tanto pela gestante quanto pela equipe profissional para se chegar à definição de qual parto é mais seguro. “A decisão deve ser feita equilibrando os desejos pessoais e a segurança da mãe e do bebê”, ressalta a Dra. Eura.

Conheça os quatro tipos de parto:
Normal ou vaginal
Este tipo de parto ocorre de forma espontânea ou induzida, com contrações que abrem (dilatam) o colo do útero até permitir a passagem do bebê pelo canal vaginal. Pode ser realizado com ou sem intervenções médicas e é indicado para gestantes sem contraindicações ao parto normal.
Estudos mostram que o parto vaginal, quando não há complicações na gestação, é mais seguro para mãe e bebê. Entre as vantagens do parto normal destacam-se:
- Menor risco de complicações para a gestante, como infecções, hemorragias e trombose;
- Recuperação mais rápida da mulher;
- Maior benefício para a amamentação e o vínculo com o bebê;
- Menor risco de infecções e complicações respiratórias para o bebê.
Como desafios, a obstetra aponta que o parto normal pode ser um processo mais longo e doloroso e com possibilidade de lacerações no períneo, isto é, lesões que acontecem na área que se estende da entrada da vagina ao ânus durante a passagem do bebê.
Natural (sem intervenções)
É um parto vaginal sem o uso de medicamentos ou intervenções médicas, realizado em ambiente hospitalar, casa de parto ou domicílio (se seguro). Pode ser indicado para gestantes saudáveis, com acompanhamento adequado e sem fatores de risco.
Entre as vantagens do parto natural, destacam-se:
- Menor chance de complicações pós-parto;
- Recuperação rápida;
- Experiência mais ativa e participativa da gestante.
Nesse tipo de parto, a dor é intensa e requer preparo físico e emocional da gestante. Outro ponto desafiador são as intervenções que podem surgir e nem sempre serão possíveis de se evitar, causando complicações para a saúde da mulher e do bebê.
Cesárea
Trata-se de uma cirurgia para retirar o bebê através de um corte na barriga e no útero. Embora quase 60% dos nascimentos ocorridos no Brasil em 2023 tenham sido por cesárea, essa opção deve ser indicada em casos bastante específicos, quando há risco materno ou fetal, complicações na gestação ou partos anteriores com cesárea.
Quando bem indicado, a cesárea é um procedimento rápido e previsível, mas com recuperação mais lenta e dolorosa do que os demais partos, além de oferecer maior risco de infecções e complicações cirúrgicas e poder dificultar o início da amamentação.
Parto a fórceps
Tipo de parto que envolve o uso de um instrumento chamado fórceps, que tem formato de pinça longa e curvada. Ele é encaixado suavemente na cabeça do bebê para ajudar a guiá-lo durante o nascimento, quando o progresso do parto está difícil ou quando o bebê precisa de assistência para sair do canal de parto.
Esse tipo de parto é geralmente realizado quando o bebê não consegue ser expulso adequadamente por meio de contrações naturais ou há risco para a mãe ou o bebê, mas outras intervenções (como cesariana) não são necessárias ou viáveis. Assim, ele é indicado quando:
- o trabalho de parto está se prolongando mais do que o ideal e a mãe está exausta ou não consegue mais fazer força suficiente para completar o parto;
- quando há sofrimento fetal (se o bebê está com a diminuição da frequência cardíaca) e o parto precisa ser concluído rapidamente;
- quando o bebê está em posições anormais;
- quando a mãe tem problemas de saúde específicos;
- quando há complicações durante o parto.
Em comparação com a cesariana, o parto a fórceps pode resultar em menos tempo de recuperação para a mãe e menos risco de complicações associadas à cirurgia. Por outro lado, há risco de lesões no bebê e na mãe, além de exigir grande habilidade técnica.
Condições da mãe versus tipo de parto
Quando se fala em saúde da mãe, é preciso avaliar o histórico clínico da mulher e as condições que a paciente já tinha antes e as que ‘apareceram’ em decorrência da gravidez. Abaixo, listamos algumas condições clínicas que podem interferir na escolha do tipo de parto:
– Hiperêmese gravídica
A condição é caracterizada por náuseas e vômitos, que podem levar à desidratação e perda de peso da gestante. A hiperêmese não impede que a mulher tenha um parto normal, “desde que tenha se recuperado da desnutrição e esteja bem hidratada no final da gestação”, como explica a Dra. Eura.
– Diabetes gestacional
O diabetes que acontece na gravidez ocorre devido à resistência à insulina, podendo levar ao crescimento excessivo do bebê (macrossomia fetal). Essa gestante também pode ter parto normal, desde que “o diabetes esteja bem controlado e o bebê não seja muito grande (geralmente até 4 kg)”.
Se o bebê for muito grande e ultrapassar os 4,5 kg, a cesárea é a opção mais indicada para evitar sofrimento fetal e outras complicações. Saiba mais sobre diabetes gestacional aqui.
– Hipertensão crônica e pré-eclâmpsia
Conforme explica a Dra. Eura, a hipertensão crônica e a pré-eclâmpsia aumentam o risco de complicações, como restrição do crescimento fetal, descolamento prematuro da placenta e eclâmpsia. Nesses casos o parto normal também é permitido, “se a pressão arterial estiver bem controlada e não houver sinais de complicações graves”.
Se houver sinais de sofrimento fetal ou restrição de crescimento grave, ou se a pressão estiver muito alta e a mãe não responder ao tratamento, a melhor opção pode ser a cesárea. “Gestantes com essas condições podem tentar o parto normal desde que a situação esteja sob controle e não haja complicações. A decisão final deve ser baseada na avaliação médica e na segurança da mãe e do bebê”, declara a profissional.
“Em muitos casos, grávidas com essas condições podem ter um parto normal, desde que a gestação esteja bem controlada e não haja complicações que justifiquem uma cesárea. A decisão sempre deve ser feita com a equipe médica, avaliando os riscos e benefícios para a mãe e o bebê e os desejos da gestante”, finaliza a obstetra.
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