Ciclo menstrual: entenda as fases e aprenda a viver melhor com cada uma delas

por Feito para Ela

Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde

Ao longo da vida, o corpo feminino passa por variações hormonais que impactam o humor, o bem-estar físico e emocional. Conhecer essas fases é o primeiro passo para vivê-las com mais equilíbrio e menos dor.

Menstruação não se resume apenas naquele sangramento que “desce” uma vez por mês. Por trás dele, existe um ciclo complexo, com variações hormonais que afetam não só o útero, mas também o nosso humor, a disposição, a pele, o apetite e até a forma como nos relacionamos com o mundo.

Por cerca de 40 anos da vida, a mulher convive com essas oscilações mensais e, muitas vezes, sem entender direito o que está acontecendo com seu próprio corpo. O resultado? Dores ignoradas, desconfortos tratados como “normais” e uma sensação de que viver o ciclo menstrual é sempre um fardo.

Mas não precisa ser assim. Entender como funciona cada fase do ciclo é o primeiro passo para se cuidar melhor. Conversamos com a médica ginecologista e obstetra Dra. Maria Auxiliadora Budib, vice-presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) na Região Centro-Oeste e professora adjunta da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMG), que esclarece, de forma clara e direta, o que acontece no corpo feminino em cada etapa.

As quatro fases do ciclo menstrual

O ciclo menstrual é o período entre o primeiro dia de uma menstruação e o dia anterior ao início da próxima. Ele dura, em média, 28 dias, mas pode variar entre 21 e 35 dias. As fases são:

  • Fase menstrual

Duração: em média, de1 a 5 dias

O que acontece no corpo: o útero elimina o endométrio (camada interna), pois não houve gravidez. Isso causa o sangramento (menstruação).

  • Fase folicular: começa com a menstruação e vai até a ovulação.

Duração: dias 1 a 13

O que acontece no corpo: os ovários começam a amadurecer os folículos, e os hormônios (principalmente o estrogênio) aumentam, preparando o corpo para uma possível gravidez.

  • Ovulação: fase fértil do ciclo

Duração: em torno de 14 dias

O que acontece no corpo: o óvulo maduro é liberado do ovário.

  • Fase lútea: do pós-ovulação até a próxima menstruação.

Duração: dias 15 a 28

O que acontece no corpo: o corpo se prepara para uma possível gravidez. Se não houver fecundação, os níveis de hormônios caem e o ciclo recomeça.

Muitas mulheres relatam sintomas como irritabilidade, cólicas ou cansaço. Em que fase eles costumam ser mais intensos e por quê?

Esses sintomas são mais comuns na fase lútea, principalmente nos dias que antecedem a menstruação. Isso acontece por conta da queda dos hormônios estrogênio e progesterona, o que pode afetar o humor, causar inchaço, dor nos seios, cólicas e cansaço. Esse conjunto de sintomas é conhecido como TPM (tensão pré-menstrual).

Que tipos de desconfortos são considerados normais e quais merecem uma ida ao consultório médico?

Normais, mas que ainda podem ser aliviados com acompanhamento médico:

  • Cólica leve a moderada
  • Inchaço
  • Irritabilidade
  • Sensibilidade nos seios
  • Alterações de humor

Sinais de alerta: é bom procurar um profissional:

  • Cólica muito intensa, que impede atividades do dia a dia;
  • Sangramento muito intenso ou com coágulos grandes;
  • Ciclos muito irregulares, por exemplo, que duram mais de 35 dias ou menos de 21;
  • Ausência de menstruação por mais de 3 meses (sem gravidez);
  • Sintomas emocionais severos, como depressão ou ansiedade intensa na TPM.

É verdade que a libido também varia de acordo com a fase do ciclo?

A libido pode variar devido às alterações hormonais.

  • Maior desejo sexual: geralmente durante a ovulação, por volta do dia 14, quando o corpo está biologicamente mais preparado para engravidar.
  • Menor desejo sexual: é comum na fase menstrual e no final da fase lútea, quando ocorrem mais desconfortos físicos (cólicas, edema em baixo ventre e em membros inferiores), e emocionais, como ansiedade e irritabilidade.

Como o uso de anticoncepcionais ajudam a aliviar os sintomas relacionados ao ciclo menstrual?

Os anticoncepcionais hormonais, como pílula, adesivo, anel, implante e DIU hormonal, regulam os níveis de hormônios e podem:

  • Reduzir cólicas
  • Diminuir o fluxo menstrual
  • Melhorar ou controlar sintomas da TPM
  • Tornar o ciclo mais regular ou até interromper a menstruação, dependendo do método. Costumamos dizer que são os benefícios além da contracepção.

Algumas mulheres relatam efeitos colaterais do uso de anticoncepcionais, como piora de quadro de enxaqueca ou cefaleia, alteração de humor ou diminuição da libido, especialmente nos primeiros meses de uso. Por isso, é recomendado usar o método contraceptivo com orientação médica e relatar os efeitos aos professional.

A tecnologia é uma boa alidada da mulher no acompanhamento do ciclo menstrual?

Sim! Aplicativos de acompanhamento do ciclo menstrual são ótimas ferramentas para entender melhor o próprio corpo. Eles ajudam a:

  • Prever a menstruação
  • Monitorar sintomas
  • Identificar padrões emocionais e físicos
  • Estimar o período fértil

Alguns aplicativos (apps) populares e com versões gratuitas são: Clue, Flo, Maia, Meu Ciclo e Eve.

Dica extra

Anotar como você se sente durante o mês pode ajudar a perceber relações entre o ciclo menstrual e o humor, a produtividade, a energia etc. Isso empodera a mulher a tomar decisões mais alinhadas com o próprio ritmo.

Conclusão

O ciclo menstrual é parte da linda e complexa missão que o corpo feminino carrega: a capacidade de gerar outras vidas. Essa jornada vem acompanhada de responsabilidades, desconfortos e, muitas vezes, dores — físicas e emocionais. Mas não precisa ser solitária nem sofrida.

Hoje, a mulher pode contar com o apoio do ginecologista, com medicamentos desenvolvidos especialmente para aliviar os sintomas do ciclo e com a tecnologia que permite acompanhar cada fase do mês com mais consciência e cuidado. Entender o próprio corpo é um gesto de amor-próprio — e o primeiro passo para viver cada fase com mais leveza, autonomia e respeito.

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