Uma nova geração de pílulas anticoncepcionais: mais seguras e com menos efeitos colaterais

por Feito para Ela

Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde

Contraceptivo com estetrol e drospirenona chega ao Brasil com promessa de menor risco de trombose e mais conforto para a mulher.

Uma nova pílula anticoncepcional chegou ao mercado brasileiro e promete ser um avanço importante quando o assunto é segurança e qualidade de vida para quem escolhe métodos hormonais. A combinação do estetrol (E4), um estrogênio de origem natural, com a drospirenona (DRSP), é a mais recente opção entre os contraceptivos orais disponíveis no país.

De acordo com a ginecologista Dra. Ilza Maria Urbano Monteiro, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), esse novo contraceptivo representa uma mudança no perfil dos hormônios usados em pílulas combinadas. “O estetrol tem uma atuação mais seletiva e um perfil de segurança melhor, especialmente em relação ao risco de trombose”, explica.

O que muda em relação às pílulas tradicionais?

Dra. Ilza explica que a principal diferença está no tipo de estrogênio usado. Enquanto a maioria das pílulas disponíveis hoje utiliza o etinilestradiol (EE), a nova fórmula traz o estetrol (E4), um estrogênio considerado mais natural e com ação mais específica no organismo.

O mecanismo de ação é um pouco complexo. O E4 atua como agonista no receptor nuclear da célula, mas sua ação é quase nula nos receptores de membrana. Isso reduz o efeito estrogênico final, especialmente em órgãos, como fígado, mama e no endotélio, que é a camada interna do vaso sanguíneo, diminuindo os impactos negativos sobre a circulação sanguínea.

“A segurança é um benefício muito válido. Sabemos que os riscos de uso dos contraceptivos contendo estrogênio é muito baixo, mas continua sendo motivo de preocupação por parte da população em geral, principalmente por informações que circulam em meios de comunicação, como mídias sociais, que estimulam o medo e provocam terror do risco de fenômeno tromboembólico. O E4 apresenta um perfil mais seguro quanto ao risco de ocorrência desses fenômenos”, afirma a presidente da CNE de Anticoncepção da Febrasgo.

Por que o E4 é considerado mais seguro?

Estudos mostraram que o estetrol interfere menos nos marcadores de coagulação do sangue. Isso significa menor chance de formação de coágulos e, portanto, menor risco de tromboembolismo venoso (TEV), uma das principais preocupações associadas ao uso de pílulas com estrogênio.

“Para se ter uma ideia, estudos mostraram que o risco de TEV em mulheres que usam pílulas com etinilestradiol gira em torno de 5 a 10 casos por 10 mil mulheres ao ano. Dados europeus de vigilância observaram que, com o estetrol, o número de eventos reportados foi 25% dos observados em usuárias de pílulas com EE/LNG (levonorgestrel)”, exemplifica Dra. Ilza.

Além disso, o E4 apresenta impacto menor sobre o metabolismo do fígado em comparação com o EE e interfere menos em enzimas que metabolizam outros medicamentos. Isso reduz o risco de interações medicamentosas, como ocorre com remédios antiepilépticos, por exemplo.

Benefícios práticos para o dia a dia

Segundo a ginecologista, outro ponto positivo dessa nova combinação é o menor impacto sobre sintomas como a dor nas mamas (mastalgia), comum com o uso de outros anticoncepcionais. Esse benefício ocorre porque o E4 tem um efeito antagonista na mama, ou seja, age de forma a bloquear os estímulos que causam esse tipo de sintoma.

Já a drospirenona, usada junto ao E4, é um derivado da espironolactona, e tem leve efeito diurético. Isso pode ajudar a reduzir a retenção de líquidos e o inchaço, incômodos frequentes relatados por mulheres que usam outros tipos de pílula.

Para quem é indicada?

A nova pílula pode ser uma opção para mulheres de diferentes perfis. “Não há uma faixa específica que se beneficie mais. Qualquer mulher pode usar, desde que não tenha contraindicação ao uso de estrogênio”, afirma Dra. Ilza.

Entre as contraindicações estão a hipertensão não controlada, enxaqueca com aura (ou mesmo sem aura em mulheres acima dos 35 anos) e histórico de doenças cardiovasculares. Nessas situações, é importante conversar com o ginecologista e avaliar alternativas.

Já está disponível no Brasil?

Sim! A pílula com estetrol e drospirenona foi lançada no Brasil em março e já está disponível nas farmácias, com valor semelhante ao de outros contraceptivos modernos.

Para a especialista, esse lançamento marca uma nova fase no uso de anticoncepcionais. “Sem dúvidas, estamos diante de uma nova geração de pílulas. A tendência é que, cada vez mais, os contraceptivos hormonais combinem estrogênios naturais e progestagênios com menos efeitos androgênicos”, conclui Dra. Ilza Monteiro.

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