Para evitar o câncer de colo de útero, meninas e meninos a partir dos 9 anos de idade devem ser vacinados contra o HPV. A imunização também é recomendada para mulheres que já iniciaram a vida sexual.
Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde.
Estamos em uma guerra silenciosa, mas urgente. De um lado, um vírus conhecido por três letras – HPV, que é a sigla para Papilomavírus Humano, o principal causador de câncer de colo de útero, terceiro tipo de tumor maligno mais comum entre as mulheres no Brasil, excluídos os casos de câncer de pele não-melanona. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que 17 mil diagnósticos da doença ocorram este ano no Brasil. Do outro lado, o país inteiro busca eliminar esse vírus e salvar milhares de vida.
Felizmente, contamos com uma arma poderosa: a vacina contra o HPV, que, desde abril de 2024, passou a ser de dose única no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninos e meninas de 9 a 14 anos, substituindo o esquema vacinal de duas ou três doses. Além dessa faixa etária, adolescentes de 15 a 19 anos não vacinados também podem tomar esta vacina de dose única gratuitamente no SUS (1), como parte da estratégia de resgate do Ministério da Saúde para atingir a meta de vacinação proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Essa mudança representa um grande benefício na luta para zerar as taxas de câncer de colo de útero. “A dose única vai aumentar a capacidade de imunização dos estoques públicos disponíveis no país, aumentar a adesão à vacinação e ampliar a cobertura vacinal, visando eliminar o câncer de colo do útero como problema de saúde pública”, declarou a ginecologista Dra. Susana Cristina Aidé Viviani Fialho, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e professora associada da Universidade Federal Fluminense.
Ela ressalta que a vacina contra o HPV administrada em uma dose tem a mesma eficácia que as anteriores. “A recomendação da dose única foi embasada em estudos com evidências sobre a eficácia do esquema frente às versões com duas ou três doses, na população de crianças e adolescentes, aliado ao aumento da cobertura vacinal resultando em diminuição da circulação viral”, disse a ginecologista. Além disso, o esquema segue as recomendações mais recentes da OMS e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
O HPV é uma infecção sexualmente transmitida, com alta frequência e associação com vários tipos de neoplasias, como câncer de colo de útero, pênis, vulva, canal anal, boca e orofaringe. Por isso, o ideal é vacinar antes que a pessoa inicie a vida sexual. “O foco da vacinação nessa faixa etária se deve ao fato de provavelmente ainda não terem iniciado atividade sexual (com proteção presente contra todos os tipos contidos na vacina) e maior produção de anticorpos, isto é, maior imunogenicidade, em relação às faixas etárias mais elevadas”, conta a coordenadora.
Outra estratégia para a diminuição da incidência dessa doença, de acordo com a OMS, é a realização de testes moleculares para detecção do HPV. No Brasil, o Papanicolau é o exame de rastreamento indicado para esses casos, capaz de detectar lesões precocemente e, assim, possibilitar o diagnóstico da doença bem no início, antes que a mulher tenha sintomas. Recentemente, o teste do HPV foi aprovado para rastreamento no SUS, sendo de grande ganho para toda a população de mulheres, pela sua maior sensibilidade em comparação com o teste de Papanicolau.
Indicações da vacina
De forma gradativa, houve um aumento de públicos-alvo incluídos no Programa Nacional de Imunizações (PNI) para receberem a vacina gratuitamente. Portanto, além dos adolescentes de 9 a 19 anos, podem se vacinar no SUS (2):
- Pessoas de 9 a 45 anos de idade, vivendo com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos e de medula óssea e pacientes oncológicos: administrar três doses da vacina com intervalo de dois meses entre a primeira e segunda dose e seis meses entre a primeira e terceira dose;
- Portadoras de Papilomatose Respiratória Recorrente (PPR): a partir de 2 anos de idade, em um esquema de 3 (três) doses da vacina: com intervalo de 2 (dois) meses entre a primeira e segunda dose; e 6 (seis) meses entre a primeira e terceira dose;
- Usuários de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) à HIV/Aids: esquema de três doses, com intervalo de dois meses entre a primeira e segunda dose; e seis meses entre a primeira e terceira dose;
- Vítimas de abuso sexual entre 9 e 14 anos: duas doses da vacina HPV4 (segunda dose deve ser aplicada seis meses após a primeira);
- Vítimas de abuso sexual entre 15 e 45 anos: três doses da vacina HPV4 (segunda dose deve ser aplicada dois meses após a primeira; terceira dose seis meses após a primeira).
Contraindicação
A contraindicação da vacina é para gestantes, que podem completar a imunização durante o puerpério.
Vacinação na rede privada
“Além das situações contempladas no PNI, todas as pessoas entre 9 e 45 anos que praticam, já praticaram ou virão a praticar atividade sexual devem tomar a vacina, uma vez que os fatores de risco para câncer do colo do útero estão ligados ao comportamento sexual (idade precoce na primeira relação sexual, múltiplas parcerias sexuais, infecções sexualmente transmissíveis)”, expõe a Dra. Susana Aidé. Além de doenças que incluem a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e outras condições imunossupressoras, o uso de tabaco também pode ser fator que aumenta o risco da doença.
Por isso, é interessante que todas as mulheres, mesmo aquelas que já tiveram contato com o HPV, tomem a vacina. A médica ressalta que “a mulher continua sob risco de contrair o HPV durante toda a vida, e uma infecção prévia não oferece imunidade suficiente para prevenir novas infecções pelo mesmo sorotipo viral”.
Nesses casos, a vacina pode ser tomada em clínicas ou farmácias autorizadas, conforme esquema vacinal recomendado para cada público.
Esse escudo pode salvar vidas e ajudar a vencer uma luta contra um inimigo microscópico, mas com alto poder letal. Proteja-se.
Referências:
2. Instrução Normativa do Calendário Nacional de Vacinação 2024. Acessado em 25 de fevereiro de 2025.