Depressão pós-parto: como reconhecer os sintomas e superar este quadro grave

por Feito para Ela
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O apoio dos familiares é fundamental para que a mulher possa enfrentar o quadro de depressão e recuperar a saúde mental.

Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde

A chegada de um filho ao mundo costuma ser um momento repleto de alegria e gratidão. No entanto, o início da vida materna pode não ocorrer da forma tão maravilhosa quanto se imaginou. Aproximadamente 10% das mulheres que deram à luz em todo o mundo tiveram depressão pós-parto, que começa geralmente entre a segunda e a quarta semanas depois do nascimento do bebê e é provocada por uma combinação de fatores, entre os quais uma queda inesperada do nível de estrógeno.

Apesar de ser um quadro clínico possível de acontecer com qualquer mulher no puerpério (período que dura entre 45 e 60 dias contados após o parto; também chamado de resguardo ou quarentena), muitas se sentem constrangidas em pedir ajuda e apoio durante esse momento delicado. 

O psiquiatra Neury Botega, professor titular da Universidade Federal de Campinas (Unicamp), afirma que é fundamental buscar tratamento adequado durante a gestação e após o parto, a fim de evitar o agravamento de sintomas e garantir uma boa saúde mental. “A depressão pós-parto é um quadro grave que precisa de avaliação médica e tratamento com antidepressivo”, afirma. 

Ele destaca, no entanto, que é normal a mulher apresentar um certo grau de tristeza nos primeiros dias após o nascimento do bebê, condição chamada de baby blues. “Cerca de 85% das mulheres apresentam certas alterações emocionais, irritabilidade, tensão e insônia nesse período, mas são sintomas leves, que passam em poucos dias e não impactam na capacidade da mãe de cuidar do bebê”, esclarece Dr. Neury, autor do livro “A tristeza transforma, a depressão paralisa: um guia para pacientes e familiares”. 

Para recuperar a saúde mental da mulher, é necessário, portanto, saber diferenciar os sintomas de depressão daqueles sintomas normais que ocorrem no puerpério. O mais marcante, explica Dr. Neury, é o sentimento de estranheza, pois a mulher fica muito desanimada, se sente incapaz de cuidar do bebê, tem tendência ao isolamento e ao choro e passa por momentos de desespero durante o dia

“Isso tudo acaba sendo um anticlímax porque em muitas situações a criança foi desejada e a gravidez transcorreu normalmente, mas a mãe apresenta um quadro de muita tristeza, negativismo, insônia, às vezes até com certa agitação psicomotora”, completa.

Tratamento da depressão pós-parto

De modo geral, o tratamento da depressão pós-parto é semelhante ao de uma depressão que ocorre em outros períodos da vida da mulher. Ele é baseado no uso de medicamentos antidepressivos que aumentam os níveis de certos neurotransmissores, em especial a serotonina, a noradrenalina e a dopamina. 

O uso de antidepressivos tradicionais deve ser feito com muito cuidado e somente com prescrição médica, porque podem afetar o bebê por meio do leite materno, apesar de isso acontecer em pequenas quantidades”, alerta Dr. Neury, que completa: somente o médico pode avaliar o risco-benefício.

Em 2019, um novo tipo de fármaco aprovado nos Estados Unidos causou entusiasmo entre os especialistas. Trata-se de neuroesteroide produzido no cérebro e que melhora rapidamente os sintomas de depressão pós-parto. Porém, a administração dele é complexa: precisa ser aplicada por via intravenosa ao longo de 60 horas. Além de ser muito caro, o medicamento não tem cobertura das seguradoras de saúde e não está disponível no Brasil.

Apoio da família: o detalhe que faz a diferença

Tão importante quanto o tratamento médico é a atenção e o apoio dos familiares à mulher que está deprimida. O psiquiatra e professor da Unicamp explica que um erro muito comum de quem quer ajudar é dizer frases como: “você tem que ser forte”, “só depende de você”, “você tem que reagir”. Ao invés de trazer algum benefício, esses conselhos culpabilizam a pessoa deprimida. “A força de vontade sozinha não é capaz de curar nenhum quadro grave de depressão. Por isso, o primeiro ponto é não confundir depressão com uma tristeza comum da vida”, explica Dr. Neury.

Uma ótima forma de colaborar é fazer companhia e ajudar nos cuidados com o bebê. Isso porque uma pessoa deprimida fica desanimada, cansada e sem motivação para tarefas básicas.

Além disso, ela tende a ficar muito negativista e ter alguém do lado para lembrá-la que ela vai melhorar faz toda a diferença. “Durante uma depressão, um dos pensamentos que frequentemente vem à mente é: não vou dar conta de cuidar do meu filho. Às vezes, esse quadro é tão grave que podem surgir ideias de morte. Por essa razão, os familiares precisam ficar muito atentos, fazer companhia e apoiar a mulher em pequenas tarefas”, recomenda Dr. Neury.

Buscar informação sobre depressão é outra medida crucial. Existem vários sites e canais no YouTube que divulgam conteúdo sério e confiável sobre o tema. O Instagram do Dr. Neury Botega é um deles: www.instagram.com/neurybotega

Cuidando da saúde mental

Embora não seja possível prevenir a depressão pós-parto, e sim tratá-la para recuperar a saúde, é sempre importante adotar hábitos saudáveis para ter mais qualidade de vida e manter a saúde mental.

Este tema aliás ganhou muita visibilidade na internet e fora dela com a pandemia do coronavírus. O que é positivo, pois todo mundo deve cuidar da sua própria saúde mental, especialmente as mulheres que, além dos compromissos profissionais, ainda cuidam da saúde e da educação dos filhos e gerenciam as tarefas domésticas.

Então, anote essas orientações:

  • Reserve um tempo para fazer atividades que você gosta, livre da pressão do trabalho;
  • Cultive hábitos que te tragam paz, por mais simples que sejam, como ouvir uma música, cuidar do jardim ou da horta ou ler um livro;
  • Faça atividade física regularmente, pois os benefícios para a saúde da mente e do corpo são muitos. Mesmo que seja difícil no começo, adquira o hábito e não pare. Pode ser uma caminhada ao ar livre;
  • Diminua o tempo gasto nas redes sociais e internet, pois este hábito leva a comparações e cobranças exageradas;
  • Aprenda a meditar! Há muitos cursos na internet que ensinam técnicas de mindfullness, por exemplo, que é o hábito de fazer as coisas com atenção plena. Essas e outras técnicas orientais, como ioga, ajudam a acalmar o cérebro e lidar com a ansiedade.

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