Por Letícia Martins, jornalista com foco em saúde
Mesmo com acesso fácil à informação, jovens chegam ao consultório sem entender o ciclo menstrual e como realizar a higiene correta, alerta médica ginecologista.
Conhecer o próprio corpo é fundamental para a saúde e a autoestima, mas essa ainda não é a realidade para muitas adolescentes. No consultório ginecológico, é comum encontrar meninas que têm medo de tocar a própria genitália até para realizar a higiene diária, além de dúvidas frequentes sobre o ciclo menstrual e as transformações naturais da puberdade. Para especialistas, orientar desde cedo e de forma acolhedora é fundamental para que os jovens desenvolvam autonomia e segurança sobre sua saúde íntima.
“É importante orientar e mostrar como é a genitália, de forma segura e respeitosa e fornecer informações sobre como realizar a sua higiene de adequadamente, pois ainda nos deparamos com adolescentes que têm dúvidas acerca de seu sistema genital e ciclo menstrual”, declara a ginecologista Dra. Tatiana Serra da Cruz, membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) da Infância e Adolescência da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Essas respostas também fazem parte da educação sexual e reprodutiva e, conforme a criança vai crescendo e se desenvolvendo como uma adolescente, também é importante abordar, aos poucos, aspectos mais profundos do tema, como:
- Relacionamento sexual
- Consentimento e o direito de dizer não,
- Orientação sexual
- Identidade de gênero
- Métodos contraceptivos
- Prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), entre outros.
As mudanças corporais e hormonais, como a chegada da menstruação para as meninas e as ereções e poluções noturnas para os meninos, podem surpreender as crianças e adolescentes. Por essa razão, afirma a Dra. Tatiana, é fundamental que eles sejam orientados sobre as alterações que podem ocorrem no corpo. “É muito importante explicar para meninos e meninas, até antes de iniciar a puberdade, sobre essas transformações e abordar as mudanças que estão acontecendo no seu corpo, que eles estão deixando aquele corpo de criança, da infância, e passando por diversas transformações, tanto do ponto de vista físico como nos aspectos psíquicos e emocionais”, expõe a Dra. Tatiana.
Desafios atuais
Embora os índices de gravidez na adolescência tenham caído nos últimos anos, a médica reforça que precisamos estar atentos a outras situações muito preocupantes, como a violência, em todas as suas formas de manifestação, o abuso e as infecções sexualmente transmissíveis.
Ela orienta os pais a acompanharem de perto os filhos também no ambiente online. “Nós temos que orientar as crianças e os adolescentes em relação aos perigos que podem vir com a internet e com as redes sociais”.
Perguntas ‘difíceis’ de serem respondidas
Nem sempre os pais sabem todas as respostas – “e ‘tá tudo bem”, como dizem os adolescentes. É claro que, em um assunto que, na maior parte das casas ainda é considerado um tabu, algumas perguntas inesperadas podem pegar os pais de surpresa.
A Dra. Tatiana explica que, nessas situações, a melhor forma de agir é de maneira natural. Temos que responder com palavras acessíveis e não ter medo nem vergonha de dizer: “olha, não sei responder o que você me perguntou, mas vou procurar saber, vou pesquisar e depois retorno com a resposta”. Ela finaliza com um conselho importante: “Os pais não precisam ser onipotentes. Eles podem procurar ajuda para tirar as dúvidas dos filhos e também as suas próprias”.
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