Situações específicas em que o diabetes afeta a saúde das mulheres

por Feito para Ela

Conheça as consequências do diabetes no ciclo menstrual, na gestação e na saúde em geral das mulheres e saiba como lidar em cada situação.

Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde

O diabetes é uma doença crônica, que atinge mais de meio milhão de pessoas no mundo. Só no Brasil são quase 16 milhões de indivíduos com a condição, que pode levar a complicações graves como cegueira, amputações e doenças cardiovasculares se não for tratada adequadamente1. Nas mulheres, o diabetes mal controlado afeta negativamente a saúde em diversos aspectos, causando desde infecções ginecológicas2, como candidíase recorrente, até gestação de risco.

Antes de abordarmos os efeitos do diabetes nas mulheres, vamos entender melhor o que é esta doença que recebeu duas datas no calendário da saúde para chamar a atenção sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento contínuo: 26 de junho, considerado o Dia Nacional do Diabetes, e o 14 de novembro como Dia Mundial do Diabetes.


O diabetes é caracterizado pelo aumento da taxa de açúcar (glicose) no sangue. Este quadro é chamado de hiperglicemia (glicemia alta) e acontece quando o hormônio insulina não está agindo adequadamente no corpo ou não está sendo produzido naturalmente pelo pâncreas. O tratamento deve ser individualizado e permanente. “Diabetes ainda é uma doença sem cura, mas existem tratamentos modernos e eficientes para controlar a glicemia. Por isso, é fundamental fazer o diagnóstico precocemente e seguir o tratamento, que envolve alimentação saudável, prática de atividade física e o uso de medicamentos ou insulina, dependendo do caso”, afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Dr. Levimar Rocha Araújo.

Os principais tipos de diabetes são3:

Diabetes tipo 2: ocorre em 90% dos casos de diabetes e está associado a fatores de risco como obesidade, sedentarismo, histórico de diabetes na família, idade acima dos 45 anos, tabagismo, entre outros. O pâncreas da pessoa com diabetes tipo 2 continua produzindo insulina, porém, em quantidade insuficiente para controlar a glicemia. Às vezes, o problema está na resistência insulínica, ou seja, o corpo produz insulina suficiente, mas não consegue utilizá-la de maneira adequada.

Diabetes tipo 1: é uma doença autoimune, na qual o pâncreas para totalmente de produzir insulina e a pessoa precisa administrar o hormônio várias vezes ao dia usando uma seringa, caneta de aplicação ou bomba de insulina. É mais comum aparecer em crianças e adolescentes, mas adultos jovens também podem ser diagnosticados com diabetes tipo 1.

Diabetes gestacional: caracterizado pelo aumento do nível de glicose no sangue durante a gravidez em função das mudanças hormonais próprias da gestação. Muitas vezes, o diabetes gestacional é tratado com o controle da alimentação e, em alguns casos, pode ser necessário usar insulina. Segundo o Dr. Levimar, a probabilidade de mulheres que tiveram diabetes gestacional desenvolverem diabetes tipo 2 é de 20 a 25%. “Por isso, recomendamos que essas pacientes façam exames frequentemente e que não ganhem peso após o parto”.

Os principais sintomas do diabetes são:

  • Sede excessiva;
  • Fome constante;
  • Urina frequente;
  • Fadiga e fraqueza;
  • Visão embaçada;
  • Formigamento ou dormência em mãos ou pés;
  • Feridas que não cicatrizam facilmente;
  • Perda inexplicável de peso;
  • Infecções frequentes, como infecções do trato urinário ou da pele;
  • Dificuldade de concentração ou pensamento lento.

Agora que você já conhece os principais tipos de diabetes e seus sintomas, entenda como esta condição crônica pode interferir na saúde da mulher.

O diabetes mal controlado pode causar candidíase e vaginose

O diabetes é uma doença sistêmica que acomete o sistema imune e endotelial, que reveste a superfície de todos os vasos sanguíneos. “A redução do sistema imune local pode propiciar que microrganismos oportunistas cresçam e produzam infecções, como a candidíase e a vaginose. Além disso, há também maior frequência de infecção da pele”, afirma o ginecologista obstetra Dr. José Maria Soares Júnior, membro da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Ginecologia Endócrina da FEBRASGO, professor de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP.

O diabetes mal controlado pode desregular o ciclo menstrual

O aumento da taxa de glicose no sangue pode causar hiperinsulinemia, que é o excesso de insulina circulante no corpo, e provocar alterações no ciclo menstrual. “A ação desta insulina em excesso afeta diretamente a função ovariana ou indiretamente a ação hepática, reduzindo proteínas que acarretam fatores de crescimento. Esse processo interfere na dinâmica folicular, ovulação e produção hormonal, alterando o ciclo menstrual”, explica o Dr. José Maria Simões Jr.

Existem vários tratamentos para isso, dependendo da evolução do diabetes. “Nos casos mais leves e menos intensos, a mudança do estilo de vida pode ser o primeiro passo. Contudo, há necessidade de medicamentos que melhoram a ação da insulina e até de hipoglicemiantes, que reduzem a taxa de glicose no sangue. Nos casos mais avançados e complicados, o endocrinologista pode introduzir insulina”, esclarece o ginecologista, que acrescenta: se a paciente continuar com irregularidade menstrual, o contraceptivo hormonal combinado pode ajudar, desde que se respeite os critérios de elegibilidade da Organização Mundial da Saúde.

Por outro lado, o endocrinologista Dr. Levimar acrescenta que é comum as mulheres com diabetes terem mais dificuldade para controlar a glicemia devido às alterações hormonais. “Na segunda fase do ciclo menstrual, há uma elevação da glicose que precisa ser vista com atenção. Uma estratégia possível é mudar a dosagem de insulina nesse período, aumentando em até 25% a dose de insulina basal para evitar complicações”, disse.

O diabetes mal controlado pode colocar a saúde do bebê em risco

Mulheres com diabetes grávidas devem ter uma gestão ainda mais rigorosa da glicemia.“Na gestação, o mau controle do diabetes pode provocar abortos frequentes e inesperados, além de má-formação do bebê”, alertou o endocrinologista Dr. Levimar Rocha Araújo. Mas o médico avisa que não é motivo para as mulheres com diabetes se privarem da maternidade. “Com um bom planejamento da gravidez e o acompanhamento da equipe médica, é possível ter uma gestação saudável”.

Dr. José Maria orienta as mulheres com diabetes que pretendem engravidar: “O primeiro passo é fazer uma consulta com o endocrinologista e ginecologista-obstetra para avaliar as condições clínicas. Adotar um estilo de vida saudável também é essencial para amenizar o risco de complicações tanto para a gestante quanto para o feto. Se a mulher não estiver com a glicemia compensada, recomenda-se acompanhamento com o endocrinologista para depois tentar engravidar.

Como evitar complicações do diabetes

Viver com diabetes não precisa ser uma rotina de sofrimento, privações e complicações de saúde. Com uma série de cuidados, é possível ter uma vida saudável e feliz. Confira algumas atitudes importantes:

  • Controlar os níveis de açúcar no sangue regularmente e manter a hemoglobina glicada (HbA1c) dentro do intervalo recomendado pelo médico;
  • Adotar uma alimentação saudável e equilibrada, evitando alimentos processados ou que aumentem o açúcar no sangue;
  • Fazer atividade física regularmente, o que ajuda a controlar o açúcar no sangue e a manter um peso saudável;
  • Realizar exames anuais de visão, pés e rins para prevenir complicações nessas partes do corpo;
  • Usar os medicamentos e/ou insulina prescritos pelo médico de acordo com as instruções;
  • Controlar a pressão arterial e o colesterol, que podem agravar as complicações do diabetes;
  • Evitar o consumo de tabaco e álcool, que também aumentam o risco de complicações;
  • Fazer exames regulares para monitorar a saúde geral e detectar sinais precoces de complicações do diabetes;
  • Procurar ajuda médica sempre que aparecer alguma infecção ginecológica ou alguma ferida que não cicatriza.

Referências

1. Décima edição do Atlas do Diabetes. Federação Internacional do Diabetes. Nov. de 2021. Disponível em: https://diabetesatlas.org/

2. Mulheres com diabetes têm risco maior de infecções ginecológicas e disfunções sexuais, alerta Febrasgo. 24 jun. de 2022. Disponível em https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1471-mulheres-com-diabetes-tem-risco-maior-de-infeccoes-ginecologicas-e-disfuncoes-sexuais-alerta-febrasgo?highlight=WyJkaWFiZXRlcyJd

3. Tipos de diabetes. Sociedade Brasileira de Diabetes. Acesso em jun. de 2023. Disponível em: https://diabetes.org.br/tipos-de-diabetes/

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